sexta-feira, setembro 29, 2006

Quantos serão os votos nulos?

As eleições deste ano apresentam uma desconcertante apatia. São duas as razões: de um lado, a legislação que arrefeceu o debate, favorecendo os que estão por cima da carne seca; de outro, o desencanto com a política, que já era grande e se tornou maior depois que as promessas de mudança do PT se transformaram em reiterada afirmação dos petistas de que tão-somente são iguais a todos os outros.
O resultado dessa soma é uma ampla desesperança que pode se traduzir em uma avalanche de votos nulos.
Um promotor que atua em município da região de Picos revelou ao Blog que nunca recebeu tanta consulta de eleitores sobre a forma de anular o voto.O promotor repetiu a receita várias vezes: “coloque zero e confirme, do começo ao fim”.
Note bem: esse questionamento verificou-se em uma cidade do interior, onde o poder crítico é menor, conseqüência da baixa escolaridade e da alta dependência do cidadão em relação ao poder político (e aos políticos que o controlam).
Em centros urbanos maiores, como Teresina, a tendência é que esse sentimento de desencanto seja ainda maior. E, assim, a possibilidade do eleitor optar pelo voto nulo pode ser mais ampla.
Tradicionalmente, a soma de abstenção, votos nulos e brancos fica em torno de 23 a 25%. Há quem avalie que este ano pode beirar os 30%. Se essa expectativa se confirmar, será um grande recado do eleitor.
Em concreto, o cidadão dirá que deseja uma nova política, bem distinta da praticada nos últimos anos, nas últimas décadas.

quinta-feira, setembro 28, 2006

O mar de enseada de Lula e o tsunami da classe média

Amigos meus têm sugerido que o Tribunal Superior Eleitoral deveria adotar providências para impedir que os 12 milhões de brasileiros atendidos pelo Bolsa Família (bolsa esmola, na visão deles) sejam descrendenciados como eleitores. Acham que seria justo fazê-lo porque Lula está usando os programas para turbinar seus votos. Pode ser que sim.
Um desses amigos, Norbelino Lira de Carvalho, é ainda mais radical: quer ver na Constituição a proibição de voto a quem recebe programa de transferência de renda. Disse a ele que tal idéia é discriminatória e que a Constituição não pode criar cidadãos de segunda categoria. Num país democrático não existem cidadãos de segunda linha, embora isso cada vez mais pareça um lirismo.
A eleição transcorrerá dentro do preceito mais elementar de escolha da maioria: um homem, um voto. Assim, o voto de um Ermírio de Moraes valerá tanto quanto de um usuário do Bolsa Família. O problema é que são poucos os Ermírio e muitos os "bolsistas" de Lula. Milhões, para sermos exatamente justos. Aí talvez a idéia plutocrata de meus amigos possa ser vista com algum grau de razoabilidade.
Mas se Lula navega em mar de enseada nesta reta final de campanha - com possibilidade de vitória já, a despeito do esforço dos debilóides petista em contrário - há uma maré de insatisfação contra ele. Uma maré que funciona mais ou menos como uma tsunami: vem forte, sem ser vista, com uma energia destruidora como poucos fenômenos sísmico-climáticos. Chega na praia e faz o mar parecer plácido, para depois revoltar-se em uma onda gigantesca que destrói tudo à sua frente.
Essa maré está na internet e é alimentada com voracidade pela classe média, que se divorciou do presidente e de seus ideais deixados ao longo do caminho nestes quarenta e quatro meses de mandato. São páginas e mais páginas de críticas ou de puro deboche publicadas ou reenviadas por e-mail. Algo bastante grande para impressionar, para preocupar quem cada vez mais precisa angariar apoio popular.
Os números das pesquisas de opinião indicam claramente uma vitória de Lula no primeiro turno. Conforme já se disse acima, ele navega em mar de enseada, mas é sempre bom lembrar que um dos mais claros sinais da tsunami é o sumiço das ondas, é a placidez repentina do mar. Por baixo, há efervescência.
Se eu fosse Lula, estava tomando muito cuidado.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Cristovam, a opção de Noblat

Seguindo uma atitude comum no primeiro mundo, o jornalista Ricardo Noblat anuncia sua preferencia na disputa presidencial. Vale pena ver o texto em que justifica seu voto em Cristovam Buarque:

"Eu sou um guerrilheiro. Guerrilheiro não faz guerrilha apenas para ganhar - faz também para defender posições". (Cristovam Buarque)

Em momentos excepcionais, este blog sempre toma posição.
Foi assim nas eleições municipais de 2004 quando apoiou Luiziane Lins para prefeita de Fortaleza.
Ela havia sido escolhida como candidata do PT - e em seguida abandonada pelo partido que preferiu apoiar um candidato do PC do B. Luzianne acabou se elegendo.
Foi assim também quando o Sacro Colégio dos Cardeais se reuniu no Vaticano para eleger o sucessor de João Paulo II. O blog apoiou a candidatura do atual cardeal de Viena - um conservador moderno, se é que isso existe.
Foi novamente assim no referendo sobre o desarmamento. O blog apoiou o desarmamento.
Para suceder Lula, o blog apóia a candidatura de Cristovam Buarque do PDT.
Engenheiro e economista, Cristovam dedicou-se nos últimos 12 anos a fazer política.
Aos 62 anos, o candidato do PDT foi governador de Brasília, senador e ministro da Educação. Antes havia sido Reitor da Universidade de Brasília.
Entre as idéias que teve e que realizou como governador, duas se destacam: o respeito à faixa de pedestre, estilo de convivência pacífica entre carro e habitante que entre nós só existe em Brasília; e o Bolsa-Escola, programa de resgate da população pobre por meio da educação.
O programa já foi adotado por mais de 20 países.
Apesar de aparecer nas pesquisas com apenas 2% das intenções de voto, Cristovam conseguiu a proeza de pôr a Educação na agenda das eleições deste ano.
Depois que ele começou a falar sobre o assunto de forma obsessiva, a Educação passou a ser apontada como uma das prioridades nos programas de governo dos demais candidatos. Cristovam tem um perfil político que o diferencia da maioria conservadora à direita e à esquerda que domina o Congresso.
Também pesou na escolha feita por este blog o fato de o PDT do senador ser um dos poucos partidos que não se envolveram nos escândalos do governo Lula – mensalão, sanguessugas, vampiros, compra de dossiês, etc...
Em desfavor de Cristovam se poderá dizer que é um sonhador. Que tem uma dezena de idéias por minuto - e que não consegue realizar a maioria delas, o que é natural.
Mas ele deixou o governo de Brasília com um índice de aprovação superior a 80%.
E não se conhece uma única história que ponha em dúvida sua imagem de político digno e coerente.

Ver o texto em:
http://noblat1.estadao.com.br/noblat/index.html

“Existe imprensa?”, pergunta Firmino

Em meio a mensalões, sanguessugas e dossiês, vale um importante questionamento sobre o papel da imprensa neste processo eleitoral. Um questionamento que cabe, sobretudo, para o Piauí.
O ex-prefeito Firmino Filho, agora candidato a governador, traduziu tudo isso numa pergunta: “Existe imprensa?”
Imprensa, sim, se tomarmos o termo ao pé da letra, traduzindo aí o produto informativo (jornal, TV, rádio) com distribuição massiva. Mas se perguntarmos sobre “jornalismo”, aí a resposta não pode ser tão categórica.
As eleições desde ano revelaram ao Piauí a campanha mais cerceada de nossa história democrática. O jornalismo desapareceu.
Profissionalmente, acompanho eleição no Piauí desde 1988 e nunca vi jornais, rádios e jornais tão amordaçados. As candidaturas oposicionistas não conseguiram, sequer, publicar fotos de carros oficiais transportando propaganda eleitoral de candidatos governistas.
Veja bem, não estamos falando de discursos difamatórios, nem dos pseudo-eventos tão comuns nas modernas campanhas. Estamos falando de algo concreto: fotos comprovando que houve utilização de recursos públicos (sim, gasolina, funcionário e carro chapa branca). Portanto, um fato que atende a qualquer análise quanto ao critério de noticiabilidade: é algo grave (uso do dinheiro público), oportuno (estamos numa campanha, quando os governantes devem ser avaliados) e impactante (é a negação do “discurso ético” de um governo que se elegeu com essa pregação).
Apesar disso, nada foi notícia. Nem esse nem muitos outros fatos graves.
Ao contrário, a imprensa local conseguiu proezas como publicar a justificativa do governo sobre fatos que ela própria não havia noticiado. Um exemplo: fatos divulgados nacionalmente indicando o envolvimento do governador do Piauí com a máfia dos sanguessugas foram “desmentidos” na imprensa local sem qualquer contextualização do fato original. Melhor dito, não havia fato, só réplica.
Esse tipo de postura marcou os meios de comunicação nesta campanha. E tudo isso justifica a pergunta de Firmino. A imprensa se transformou em meios desinformativos, empanando de forma deliberada a clareza do processo. Assim, a imprensa se transformou em meios nada, nada jornalísticos.
Definitivamente, o jornalismo não se mostrou presente nesta campanha.

terça-feira, setembro 26, 2006

Assembléia terá 11 partidos

A próxima composição da Assembléia Legislativa será eclética como nunca, pelo menos do ponto de vista partidário. Isso tem que ser destacado, porque podem chegar ao Legislativo estadual velhos nomes por novas siglas. Basta citar Paulo Henrique Paes Landim, que construiu uma vida no PFL e agora pode retornar à casa pelo PTB.
Certo mesmo é que haverá uma fragmentação partidária como nunca.
Se em 1994 dois partidos (PFL e o então PPB) tinham mais de dois terços (22 dos 30 deputados), este ano a maior bancada deverá ficar com não mais que seis deputados; ou seja, algo como um quinto da casa. Esse grupo “majoritário” deve ter filiação ao PMDB, ainda que composto de vários governistas e um ou dois mãossantistas.
Terão assento na Assembléia nada menos que 11 partidos. Senão vejamos: PMDB, PFL, PP, PT e o PL manterão representação, como acontece há várias eleições. O PCdoB, que já teve deputado herdado do PT (Olavo Rebelo, hoje de volta ao clube da estrela), desta vez elegerá pelo menos Robert Rios. Ainda que não seja fácil, tem chance de fazer um segundo deputado. O PV fará um com certeza (Nonato Pereira é o favorito), embora os ecologistas acreditem que farão dois.
PSB elegerá pelo menos Lílian Martins, enquanto o PDT espera fazer três deputados – fará pelo menos dois. O PTB tem amplas possibilidades de eleger Nerinho, Hélio Isaias e Paulo Henrique Paes Landim, dentro da coligação governista.
Dos partidos de sempre, o PMDB pode fazer cinco ou seis, enquanto o aliado PP sonha com três outros nomes voltando à Assembléia. PFL calcula fazer cinco parlamentares, enquanto PSDB faz dois ou três. O PT deve fazer quatro. O PL repete o de sempre, com Xavier Neto.
Saindo das especulações dos nomes, o que parece claro é que o Legislativo estadual terá 11 siglas. Isso para começo de conversa. Com o correr dos fatos e a discussão da reforma política, podem surgir novas siglas com assento na AL, como o PMR do vice-presidente José Alencar.

O Eleito

Em tempos de eleição e de candidatos já colocando-se como eleitos, vale reproduzir aqui a letra da música "O Eleito", do rebelde Lobão. A música bem pode servir no molde de alguns que estão por aí.

O ELEITO
Autor: Lobão

Ele é esperto e persistente
Acha que nasceu pra ser respeitado
Ele é incerto e reticente
Acha que nasceu pra ser venerado

O Palácio é o refúgio mais quer perfeito
Para seus desejos mais que secretos
Lá ele se imagina o eleito
Sem nenhuma eleição por perto

Ele é o certo
Ele é o perfeito
Ele é o que dá certo
Ele se acha o eleito

Seus ternos são bem cortados
Seus versos são mal escritos
Seus gestos são mal estudados
A sua pose é militarista

Ele se acha o intocado
Senhor de todas as cadeiras
Derruba tudo pra ficar estável
Ele não está para brincadeira

Ele é o certo
Ele é o perfeito
Ele é o que dá certo
Ele se acha o eleito

O quase passa quase, quase parado
E eu aqui sem a menor paciência
Contando as horas como se fossem trocados
Como se fosse conta de uma penitência

E tudo, tudo parece estar errado
Mas nesse caso o erro deu certo
Foi o que ele disse ao pé do rádio
Com a honestidade pelo avesso

Ele é o certo
Ele é o perfeito
Ele é o que dá certo
Ele se acha o eleito

sábado, setembro 23, 2006

O 'jeitinho brasileiro' e Lula

O instituto de pesquisa Brasmarket perguntou a 9.450 eleitores de todas as regiões do país como se sentiam diante do chamado jeitinho brasileiro. Veja as respostas:
otimo ......19,4%
bom ........30,3%
regular ....25,0%
ruim .......6,1%
péssimo ....11%
Os números parecem falar por si. Muitos estudiosos indicam que esse é um traço natural da cultura brasileira, que teria influência na vida de cada um, nas decisões profissionais e também na política.
Esses 49,7% de ótimo e bom podem muito bem explicar o pouco efeito das estripulias petistas nas intenções para presidente. O "jeitinho petista" está dando ibope.

Ver em: http://blog.estadao.com.br/blog/?blog=22

Sugestão para Lula: contar a verdade. Já

Paulo Moreira Leite
Blog do estadão

Lula queixou-se, na entrevista ao Bom Dia, Brasil, que não lhe fizeram perguntas sobre seus planos de governo. Foi sorte. Todos os planos de Lula para um segundo mandato são arte decorativa se ele não for capaz de passar a limpo a sujeira produzida nos últimos dias.
Nascida na churrasqueira do governo, a operação para comprar o dossiê contra José Serra não pode ser chamada de “conspiração da elite”. No máximo seria definida como “conspiração da ralé,” ainda que o mais pobre dos envolvidos, Freud Godoy, tenha recebido verbas de Marcos Valério e seu patrimônio pessoal seja maior que o declarado pelo próprio presidente.
Com 50% das intenções de voto, conforme a maioria das pesquisas, Lula pode até ganhar o pleito no primeiro turno – como dizem todos os levantamentos até hoje. Mas ele também precisa escolher o governo que fará.
Numa hipótese, conta o que houve, explica o papel de cada um de seus amigos e assume suas responsabilidades perante o eleitorado. Há um risco considerável nessa alternativa, mas ela implica numa aposta que pode engrandecer o presidente. Se é inocente e se deseja mesmo apontar os culpados, Lula pode dizer o que sabe. Será uma prova de lealdade.
A hipótese número 2 implica na desonra: colocar a sujeira para baixo do tapete e ir para a eleição em clima de vale-tudo. Nesse caso, a derrota é certa. Lula pode até vencer a eleição, mas herdará uma crise que atravessará as urnas para envolver todo o segundo mandato, criando obstáculos permanentes a sua capacidade de governar e pode terminar com sua degola.
Em entrevista recente, o ministro Marco Aurélio Melo, presidente do TSE, encarregado de fiscalizar a eleição, disse que o episódio do dossiê “é muito mais grave do que Watergate.” Alguém até pode observar que um juiz age melhor quando reserva suas opiniões para os autos. Em todo caso, a mensagem é clara. Watergate foi uma ação de espionagem cometida pelo porão da Casa Branca, durante o primeiro mandato de Richard Nixon. O presidente americano conseguiu ser reeleito mas foi forçado a renunciar na metade do segundo mandato – tamanha a quantidade de provas capazes de incriminá-lo.
Lula pode escolher

Blog do Paulo Moreira Leite:
http://blog.estadao.com.br/blog/?blog=22

sexta-feira, setembro 22, 2006

Quem sabe o que quer vai mais longe

Adoro os exemplos de determinação. Eles explicam as vitórias, no esporte e na vida. Daí, posto o texto abaixo, de Lívio Oricchio, publicado no Blog do Estadão:

"Ele já conquistou sete vezes o título mundial e anunciou que disputa apenas mais três GPs, China, Japão e Brasil. Depois, aos 37 anos, encerra sua trajetória de piloto, ao menos na Fórmula 1. Ao longo de 15 anos na competição, estabeleceu a mais brilhante de todas as carreiras.
Seus números o colocam em primeiro em quase tudo. Mais: ganha tanto dinheiro, cerca de 65 milhões de euros por ano, que não sabe o que fazer com ele. Com tudo isso e sem nenhuma exigência por parte da sua equipe, Michael Schumacher não pára de trabalhar.Ontem deu sequência às atividades de quarta-feira no circuito de Mugello. A Ferrari experimenta pequenas novidades no modelo 248 F1 e, ao mesmo tempo, testa os pneus Bridgestone que serão utilizados nas etapas que irão definir o campeonato.
Tenho comigo que mesmo se não estivesse diante da possibilidade real de vencer o Mundial pela oitava vez, Schumacher teria treinado como tem feito. Pilotar um carro de Fórmula 1 é sua paixão. Quando vejo nos autódromos, bem de perto, suas expressões de realização, questiono-me como deverá ser difícil para esse homem deixar de lado seu fascínio pela velocidade, pela busca incansável de elevar sempre o limite da condução.
Ontem Schumacher completou 84 voltas no traçado de 5.245 metros de Mugello e outras 14 na versão curta, de 2.760 metros. Na quarta-feira, o alemão deu 57 voltas na pista maior. E hoje prosseguirá com os experimentos.
Esse foco muito bem definido sobre o que deseja tem enorme responsabilidade no seu sucesso. Não permite que uma série de fatores externos, comuns num universo repleto de elevadas tensões como da Fórmula 1, interfiram no seu rendimento, no que busca para si e sua equipe.
Foram bem poucas as vezes em que vi Schumacher se deixar afetar por algo proveniente de fora das pistas. Ou mesmo de dentro do autódromo. Além de sua imensa capacidade técnica, seus dotes de velocidade, Schumacher conta com essa característica que também o diferencia da grande maioria. Coloquemos sua regularidade de performance num gráfico e a comparemos com a de seus concorrentes. Ficará mais fácil compreender a sua eficiência, o fato de ser o melhor em quase todos os parâmetros de desempenho.
Bem poucos pilotos manteriam o interesse, a gana de ainda tentar ser campeão estando já 25 pontos atrás do líder da temporada, como era o caso, este ano, de Schumacher em relação a Fernando Alonso depois do GP do Canadá. Dentro de si a idéia de abandonar a Fórmula 1 já estava tomada. Tanto que na prova seguinte, Estados Unidos, a comunicou à Ferrari. Com tudo isso a desestimulá-lo, trabalhou duro com seu time e os técnicos da Bridgestone para tentar reverter uma situação que parecia definida. E que realidade experimenta hoje: reduziu nada menos de 23 pontos dos 25 de vantagem que Alonso possuía.
Dá para ver que notícias quase sem importância como a de ontem e hoje - “Schumacher treinou em Mugello” - é que explicam, em boa parte, o que esse alemão significa para a história da Fórmula 1 e do automobilismo?
Agora responda: diante dessa demonstração inequívoca de estar como nunca com a faca entre os dentes, qual dos dois pilotos que lutam pelo título se apresenta em melhor condição moral para a disputa da corrida de Xangai, dia 1.º?"

Ver texto em: http://blog.estadao.com.br/blog/livio/

Ibope e dossiê levam Lula para a defesa

Os números do Ibope mostram mudanças dentro da margem de erro das pesquisas. São alterações pequenas, que mantém o quadro geral: Lula segue na frente, com uma vantagem que lhe daria, se as eleições fossem hoje, a vitória no primeiro turno.
A novidade é que, embora pequenas, quase invisíveis, todos os números registram mudanças numa direção: Lula perde um ponto, Alckmin sobe um.
A aprovação do governo, que costuma antecipar intenções de voto, caiu 6 pontos. Outros indicadores tem o mesmo sentido. Isso quer dizer que a vantagem de Lula diminui, ainda que seja imensa. Faltam dez dias para a eleição e o tempo trabalha contra Alckmin e seu esforço para tentar o segundo turno. A diferença é enorme para o bloco dos adversários impedir Lula de fazer 50% mais um dos votos em 1 de outubro. Mas a eleição está em outro ritmo.
Em seu programa de hoje, Lula dedicou longos minutos ao escândalo da compra de dossiês. Falou sobre as demissões, lembrou que nunca acusou adversários nas campanhas. Fez uma referência específica a Ricardo Berzoini, o presidente do PT e coordenador da campanha afastado de suas funções, dizendo que não estava envolvido diretamente na operação.
É uma prova de que a coordenação da campanha já detectou que a vitória no primeiro turno pode se aproximar da zona de risco e decidiu organizar a defesa do candidato.

Paulo Moreira Leite
No Blog do Estadão, 22.09.2006
http://blog.estadao.com.br/blog/paulo/

quarta-feira, setembro 20, 2006

ONG de Lorenzetti recebeu R$18,5 milhões

"A ONG Unitrabalho, que tem como colaborador Jorge Lorenzetti, acusado de estar envolvido na compra do dossiê para incriminar tucanos, recebeu R$ 18,5 milhões da União desde o início do governo petista até setembro deste ano. Coincidência ou não, desse dinheiro, R$ 4,1 milhões foram pagos pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) na última quinta-feira (15/9), um dia antes de Gedimar Pereira Passos e Valdebran Padilha serem presos portando R$ 1,7 milhão.
Este ano, a Unitrabalho (Fundação Interuniversitária de Estudo e Pesquisa sobre o Trabalho) recebeu R$ 4,4 milhões dos cofres federais, dos quais mais de 90% foram pagos na semana passada. O total repassado até agora em 2006 é cinco vezes maior do que toda a quantia desembolsada no período entre 1996 e o final do governo Fernando Henrique Cardoso, que não chega sequer a R$ 1 milhão. No ano passado, o montante foi ainda mais expressivo com repasses da ordem de R$ 7,2 milhões.
As transferências em 2003 e 2004, feitas em favor da ONG que conta com o apoio de Lorenzetti chegam a quase R$ 7 milhões."
Ler mais no Blog do Noblat:
http://noblat1.estadao.com.br/noblat/index.html
E no site Contas Abertas:
http://contasabertas.uol.com.br/noticias/detalhes_noticias.asp?auto=1502

Mais sobre o escândalo do Dossiê:
Planalto ataca PT para proteger Lula
e procura afastá-lo do lamaçal

da Folha de S.Paulo, em Brasília
Em estratégia para proteger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso da compra de um dossiê contra tucanos, o Palácio do Planalto buscou transferir a responsabilidade pelo caso ao PT e isentar o ex-assessor Freud Godoy. Coordenador político do governo, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, disse que o partido "tem de dar explicações sobre seus militantes, assumir mais essa lição e tratar com mais radicalidade as questões".
Ver mais em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u83437.shtml

Envolvidos na compra de dossiê para incriminar tucanos
receberam dinheiro da União

Do site Contas Abertas
"O assessor da Presidência Freud Godoy, apontado como um dos responsáveis pela compra do dossiê que comprovaria o envolvimento de tucanos na máfia dos sanguessugas, recebeu R$ 79 mil da União. O total é referente a diárias, auxílio moradia e ajuda de custo de 2003 até setembro deste ano. Já a empresa Saneng, cujo dono Valdebran Padilha da Silva também está envolvido no caso, recebeu de 2002 até 2004 cerca de R$ 277,4 mil.
Este ano, Godoy embolsou cerca de R$ 16 mil de auxílio moradia. Em 2005, o total pago ao assessor foi de mais de R$ 9 mil. No segundo ano do governo petista, também ganhou pelo auxílio moradia e diárias de viagens mais de R$ 22 mil. Em 2003, ano em que foi nomeado para o cargo, Freud Godoy recebeu mais de R$ 30 mil em benefícios. A Saneng Saneamento e Construção LTDA, que parou de firmar contratos com a União em 2004, está inscrita como inadimplente no Cadastro Informativo dos Créditos Não Quitados de Órgãos e Entidades Federais (Cadin)."
Texto completo em:
http://contasabertas.uol.com.br/noticias/detalhes_noticias.asp?auto=1501

Escândalo pode quebrar blindagem de Lula

Paulo Moreira Leite
Blog do estadão, em 20/09/2006, às 9h43

Muitas pessoas olham para o DataFolha de ontem, e dizem: Lula está blindado contra o escândalo da compra de dossiê e nada mudará até a votação. Os números mostram Lula segue com 50% das intenções de voto, Alckmin com 29% e assim por diante. Não acredito que nada vai mudar. E acho que as chances de Lula vencer no primeiro turno serão afetadas.
A experiência ensina que a grande massa do eleitorado leva dias para digerir uma novidade desse tamanho. As informações chegam à TV, depois à conversa de bar, ao bate-papo de amigos e à conversa entre vizinhos. É aí que o eleitor confirma seu voto, muda de idéia, pensa mais uma vez. Até 6a. feira passada, a eleição estava muito favorável a Lula. Hoje se encontra num horizonte de incertezas e dúvidas,que irão crescer na medida em que a população começar a falar sobre o assunto e inteirar-se de tantos detalhes escabrosos. O governo já está na defensiva, auxilares diretos de Lula partem em revoada, as explicações causam constrangimento e repulsa mesmo entre petistas.
A reeleição no primeiro turno sempre foi uma disputa de dois ou três pontos – um punhado de eleitores que precisavam ser convencidos a votar a favor ou contra Lula, na última hora. Dias atrás, esse eleitorado indeciso, pouco fiel, parecia seduzido por Lula. Vai permanecer assim agora?
A última eleição espanhola virou 48 horas antes. Ocorreu um “fato novo” de bom tamanho: um atentado terrorista em Madri. Quando a população descobriu que o governo conservador divulgara uma mentira, para incriminar a oposição e ganhar votos, um eleitorado indignado correu às urnas e garantiu a vitória dos socialistas, que até então não tinham a menor chance.
Ninguém precisa me lembrar das enormes diferenças entre Brasil e Espanha. Mas o episódio mostra, como dizia o deputado Miro Teixeira -- muitos dias antes do escândalo da compra de dossiê -- que eleição tem véspera e só se resolve no dia da votação.

Ver Blog em: http://blog.estadao.com.br/blog/paulo/

Dossiê: eleitor não gostou do que viu

Paulo Moreira Leite
Blog do estadão, 19/09/2006, às 16h00

Grupos de pesquisa qualitativa formados para avaliar a campanhapaulista não têm boas notícias para quem se envolveu com adivulgação do dossiê contra José Serra.
Os eleitores que viram o programa de Orestes Quércia de 6a. feira passada, que mostrou a revista Istoé no vídeo antes que ela chegasse a todas as bancas do País, mandaram um sinal amarelo ao candidato do PMDB.
Acham que a revelação pode ser sua utilidade, mas afirmam que investigar é tarefa da polícia e não dos candidatos. Eleitores que viram o programa de Aloizio Mercadante, ontem, quando o candidato do PT tratou do assunto, disseram que falou muito mas não disse nada.

Ver blog em: http://blog.estadao.com.br/blog/paulo/

Frase lapidar

Em meio à confusão em que a falta de neurônios no PT federal provovou, uma frase boa, do jornalista Arimatéia Azevedo, em sua coluna diária, no jornal O Dia:
"O PT era bem melhor fazendo protestos e gritando palavras de ordem".

Quadrilha é pouco

SÃO PAULO - É o delegado de Ribeirão Preto que pede a prisão de Antonio Palocci, acusando-o, entre outras coisas, de "formação de quadrilha" por conta do episódio chamado "máfia do lixo".
Quem é Antonio Palocci? Primeiro, foi coordenador de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, no lugar de Celso Daniel, prefeito assassinado de Santo André, em crime que, segundo Luiz Inácio Lula da Silva, envolvia "gente graúda".
Depois, Lula e seu partido deixaram morrer mansamente o caso, sem que ele ficasse de fato esclarecido.
Depois, Palocci foi o homem forte do governo Lula, responsável pela política econômica, posição que usou para violar o sigilo bancário de um caseiro que fazia acusações contra ele e sua turma.
É também o Ministério Público que pede a prisão de Freud Godoy, recém-demitido do cargo de assessor especial do presidente Lula, pela suspeita de negociar a compra de um dossiê contra candidatos adversários, manobra que o presidente considerou "abominável".
É a revista "Época" que informa que Osvaldo Bargas também ofereceu um dossiê contra adversários do PT. Quem é Osvaldo Bargas? Foi alto funcionário do Ministério do Trabalho no governo Lula e, atenção, assessor direto de Ricardo Berzoini, presidente do PT.
Quem é mesmo Berzoini? Além de ter sido, como ministro da Previdência, torturador de velhinhos aposentados no processo de recadastramento, é o coordenador da campanha de Lula, como Palocci o foi em 2002.
Ah, tem também Jorge Lorenzetti, misto de churrasqueiro de Lula e funcionário de um banco federal, que seria o verdadeiro responsável pela "abominação" (negociar a compra do dossiê).
O procurador-geral da República foi contido ao falar em "quadrilha", na denúncia contra toda a cúpula do lulo-petismo.

Clovis Rossi, na Folha de S. Paulo de 20;07.06

terça-feira, setembro 19, 2006

O ambiente degenerado em torno de Lula

Paulo Moreira Leite
Blog do estadão, em 19/09/2006

Se não tivessem ocorrido os escândalos como o mensalão e o caso Waldomiro Diniz, eu seria capaz de acreditar que a compra de uma entrevista contra José Serra publicada pela revista Istoé era uma provocação dos inimigos do PT para prejudicar a campanha de Lula. Não se conhece, na história política recente, uma ação tão ruinosa, inoportuna, inepta -- e reveladora do ambiente degenerado em que sobrevive uma fatia deste governo, localizada tão próxima do presidente.
Antes de sexta-feira passada, Lula estava com 50% dos votos, com a reeleição desenhada no horizonte. Hoje, o presidente se encontra na defensiva, de volta ao discurso do "não sabia de nada", ameaçado por um escândalo cujo impacto na eleição é uma incógnita mas que já constitui um péssimo agouro para um eventual segundo mandato. Como ficam os apelos republicanos" do Planalto pela conciliação diante dos "métodos" de luta política revelados no episódio?
Conversei com um funcionário de primeiro escalão do governo Lula, ontem. Mesmo calejado, até ele se confessou "estarrecido" com a operação. Conversamos sobre a personalidade de Freud Godoy, um faz-tudo da assessoria pessoal do presidente Lula, pessoa muito próxima da família presidencial. Freud admite que tenha se encontrado com o funcionário do PT apanhado em flagrante com R$ 1,7 milhão, mas alega que discutiam a contratação uma empresa de segurança para campanha. Parece apenas desculpa de advogado, mas até agora não se demonstrou qual o papel efetivo de Freud na ação.
De todo modo, ele não parece reunir condições políticas nem financeiras para arquitetar uma ação desse tipo. A conclusão é que faltava alguém para lhe dar a ordem. Aí apareceu José Lorenzetti, amigo de Lula, churrasqueiro emérito do Alvorada, petista de maior musculatura. A pergunta agora é se Lorenzetti e Freud agiram sòzinhos. Alguém acredita?Meu interlocutor garante que sim, mas nessa hora até sua voz me recorda a condição de funcionário deste governo.

Veja texto em
http://blog.estadao.com.br/blog/paulo/?title=nunca_se_viu_uma_acao_politica_tao_ruino&more=1&c=1&tb=1&pb=1

segunda-feira, setembro 18, 2006

Lula, o aplauso fácil e o gol contra

Tive uma professora que me encantava pelo dom da oratória. Sabia como ninguém se apropriar do sentimento da platéia e dizer o que o público queria ouvir. Sempre encantava, qualquer que fosse o auditório.
Consegui ver dois discursos seus num mesmo dia. O primeiro, para uma platéia conservadora; o segundo, para um grupo de sindicalistas. Um discurso negava o outro. Mas ambos eram brilhantes. E encantadores, deixando a platéia boquiaberta.
Recordo de minha velha professora para chegar ao presidente Lula, esse homem sedutor, capaz de encantar todas as platéias, recorrendo a expedientes de oratória simples. Sempre se vale do sentimento comum da audiência para dizer o que a maioria quer ouvir. O único problema é que Lula às vezes esquece dos limites.
Foi assim na reunião com os empresários, quando respondeu a uma pergunta de Eugênio Staub sobre as reformas que precisam ser feitas nos próximos anos.
- Staub, não desperte o demônio que dorme em mim, porque o que dá vontade é de fechar esse Congresso e fazer o que deve ser feito.
Lula jogou com o descrédito do Congresso, o conservadorismo empresarial (que no passado apoiou golpes e coisas piores) e com um certo autoritarismo que é forte na América Latina e mais ainda no Brasil, conforme revelam seguidas pesquisas do Latinobarômetro. O presidente buscou o aplauso fácil, sem olhar para a (ir)responsabilidade de sua fala.
Primeiro, o Congresso pode ser uma droga mas não pode ser excluído do processo democrático. Se algo deve ser feito, é apostar em reformas que garantam uma nova postura política. E isso nem o presidente nem o seu partido tiveram a preocupação de abraçar nos últimos quatro anos.
Segundo, o empresariado brasileiro de hoje tem inequívocos compromissos com a democracia, às vezes mais que os partidos e os políticos.
Terceiro, não cabe a um presidente (nem mesmo como gracinha ou recurso retórico) insinuar a possibilidade de fechar um Parlamento. Lula pode até avaliar que ganhou votos ao criticar o Congresso e dizer da vontade de não levá-lo em conta; pode ter somado à sua campanha, mas fez um gol contra as instituições e a democracia.
Lula precisa aprender que jogar para a platéia não é tudo. Todo cidadão deve ter um compromisso coletivo mais amplo. E um dirigente político deve ter esse compromisso acima de qualquer outro fator.
Em nome de um jogo imediatista, Lula esqueceu-se disso.
E meteu um gol contra. Contra todos.

Os demônios de Lula atemorizam

Repercutiu mal, muito mal, a declaração do presidente Lula sobre a vontade íntima que tem de fechar o Congresso e promover as reformas que precisam ser feitas.
Aqui no Brasil a reação foi tímida. E o governo tratou de colocar tudo na conta do clima eleitoral.
Mas fora do Brasil a reação foi ruim. O motivo é simples: o velho autoritarismo latino-americano ainda causa arrepios vez ou outra. E Lula hoje é, na conta dos europeus e norte-americanos, apenas "mais um" presidente latinoamericano, longe das promessas de algo novo e diferente alimentadas com sua eleição, em 2002.
Lula não oferece o sonho de uma nova política. Sequer de uma nova América Latina ou de um novo Brasil. Depois dos escândalos de corrupção e do uso do dinheiro público de forma escancarada, o presidente que deveria ser da mudança caiu na vala comum. E muitas vezes é visto como mais elameado que muitos de seus antecessores.
Não foi sem preocupação que jornais do mundo inteiro reproduziram a notícia dos demônios lulistas, um furo do rigoroso e excelente jornalista Elio Gaspari. Vale recordar: em reunião com empresários, ao ser indagado por Eugenio Staub (Grupo Grandiente) sobre as reformas que precisam ser feitas, o presidente usou da fácil oratória para fazer uma graça que simplesmente não tem propósito:
- Staub, não desperte o demônio que dorme em mim, porque tenho vontade de fechar esse Congresso e fazer o que se deve fazer - disse Lula.
Naturalmente, ninguém está achando graça da frade se Lula.
Pior: a nota do Palácio do Planalto não nega a declaração. Tenta dizer que foi descontextualizada e que o presidente defende a democracia.
A história de Lula é de compromisso com a democracia. Mas a frase é de uma infelicidade sem par, capaz de macular a própria trajetória do presidente.

Veja a notícia do El Pais, da Espanha:
www.elpais.es/articulo/internacional/demonio/duerme/Lula/elpporint/20060918elpepuint_1/Tes/

sábado, setembro 16, 2006

Candidato sem nada a esconder

Isso é o que se pode dizer um candidato sem nada a esconder. O nome dele é Albert Rivera, um advogado de 27 anos que concorre à presidência da Generalitat (o governo) da Catalunha, a região mais rica da Espanha, onde está Barcelona.
Com um slogan para lá de sugestivo ("Só nos importa as pessoas"), Rivera apresentou o cartaz da campanha que acontecerá em novembro. Ele aparece de corpo inteiro, nuzinho da Silva, somente as mãos cruzadas sobre o pênis.
Rivera é candidato pelo Partido da Cidadania, recém-criado e que tem como propósito representar os segmentos discriminados, entre eles o migrantes e seus descendentes, que comem o pão que o diabo amassou.
Não por acaso, o texto ao lado da foto diz:
"Nasceu o seu partido. Só nos importa as pessoas. Não importa onde você nasceu. Não nos importa a língua que você fala. Não nos importa que roupa veste. A nós, importa você".
Uma coisa é certa: com um cartaz tão chamativo, o Partido da Cidadania ganhou bons espaços nos jornais. É pouco provável que ganhe votos, já que a disputa na Espanha é muito ideologizada e centrada em partidos fortes e há muito institucionalizados.
Jogadas desse tipo tendem a render notícias. Não muito mais que isso.

Ver matéria completa em:
www.elpais.es/articulo/espana/Desnudo/presidir/Generalitat/elpporesp/20060916elpepunac_4/Tes/

Suassuna é "decente e leal", diz Lula

Definitivamente, o conceito ético do PT mudou do vinho pra água. Ou pra lama.
Pois não é que o presidente Lula defendeu com unhas e dentes o senador Ney Suassuna, aquele ex-aliado de Fernando Henrique (à época duramente criticado pelo PT) que se transormou em líder do governo petista. Suassuna está até os últimos fios de cabelo envolvido no esquema da máfia das ambulâncias. Em outros tempos, por muito menos (e com razão) o PT já teria esculhambado todo o governo e pedido a imediata renúncia do senador.
Pois agora o presidente Lula aproveita um comício em João Pessoa para defender o homem do esquema das sanguessugas, a quem chamou de "leal" e "decente".
Leal, vá lá. Dencente, aí são outras conversas.

Veja matéria completa em www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u83223.shtml

quinta-feira, setembro 14, 2006

PSDB precisa redescobrir o povo

Paulo Moreira Leite
Publicado no Blog do Estadão, em 14/09/2006

Há muito tempo que venho dizendo que o problema da campanha de Geraldo Alckmin não é marketing. É política. Minha visão é que ele não conseguiu mostrar o país que carrega no coração – e por essa razão não consegue atrair mais votos que o tradicional eleitorado tucano. Seu cesto de intenções de voto é só um pouco maior que o de José Serra em 2002, o que é um absurdo quando se considera o que ocorreu nos quatro anos do governo Lula e a fragilidade dos demais concorrentes de oposição.
Acho que o PSDB precisa voltar ao povo. E essa é a prioridade para entender o que acontece agora e também quando se fala sobre 2010. O problema não é a disputa entre Aécio Neves e José Serra. Ou sobre o destino de Geraldo Alckmin, caso as urnas de 2006 confirmem o que está escrito nas pesquisas e Lula seja reeleito.
Em 1994, quando fez o Plano Real e garantiu a estabilidade da moeda, Fernando Henrique Cardoso garantiu a própria eleição porque soube estar junto ao povo e foi eleito pela turma C, D e E. Esse é o pessoal que decide uma eleição direta e que hoje muitos observadores tucanos definem como mal-nutridos e desinformados. Em 1994 Lula estava com um pé no Planalto mas depois do Real foi obrigado a fazer o caminho de volta e esperar oito anos. A razão? Apesar do carisma popular nulo, FHC estava aonde o povo está – este é o lugar dos artistas, como disse Milton Nascimento, e também dos políticos.
O PT precisou de oito anos para entender o valor da estabilidade, sem a qual teria tido muito mais dificuldades para eleger Lula em 2002 e sem a qual não teria conseguido governar a partir da posse. O PSDB enfrenta agora um problema semelhante, na área social.
Não se deve esquecer o mensalão e sua escória, nem por um momento. Deve-se rejeitar o "não sabia de nada" e denunciar a vergonha produzida no Congresso. É preciso cobrar tudo de bom que poderia ter sido feito e não foi -- a começar por um crescimento econômico mais decente.
Mas em política é preciso olhar para aquilo que o povo está olhando: comida barata, crédito acessível, ajuda aos mais necessitados, bolsa para entrar em faculdade privada.
É difícil negar que o governo Lula deu uma resposta para problemas importantes para milhões de brasileiros. Pode ser insatisfatória, incompleta e até demagógica, como sustentam economistas tucanos. É claro que falta porta de saída para o Bolsa-Família, o que é grave.
Mas é inegável que hoje a massa de pobres e excluídos ganhou espaço no Estado – e por isso se reconhece o presidente. Sem reconhecer isso, o PSDB estará condenado a comentar os acontecimentos. Pode falar em populismo, aparelhamento do Estado e levantar o fantasma do autoritarismo. Esta é a crítica que se espera da oposição a um governo do PT. Mas só com isso o PSDB não será ouvido pelo povo. Ficará de comentarista da vida política. Esse é ponto.
FHC foi eleito em 1994 dizendo que o Brasil era um país injusto. Estava certo.

Ver Blog do Paulo Moreira Leite em http://blog.estadao.com.br/blog/paulo/

A eleição da esmola

Zózimo Tavares
Publicado no Diário do Povo, 14/09/2006

Veja só a que ponto chegou o Brasil nesta eleição! Como se sabe, eleição é escolha, e escolha é opção, e é o fruto de um critério de avaliação sobre o desempenho, resultado ou comportamento de algo ou alguém que esteja sendo avaliado. Uma análise mais detida do quadro político brasileiro mostra o silêncio estupefato do povo, que assiste a um festival de notícias e divulgação de pesquisas enaltecimento os donos do poder. Como ensinava o célebre orador romano, “ao povo, pão e circo!”.
Hoje vê-se a frase mais atual do que nunca. Porém, como diz o vaqueiro sertanejo, “capada”, porque tiraram a motivação emocional da eleição, proibindo toda e qualquer manifestação que ativasse o sentimento de alegria e irreverência popular.
Proibiram o circo e deixaram apenas o pão na mão dos ricos e abastados para, como política da esmola e de suborno, manipularem a eleição. Banalizaram a corrupção com o mensalão, propinão, dólar na cueca, sanguessuga e tantos outros adjetivos e substantivos pejorativos dos bons costumes. Tudo se tornou natural e nada é punido. No ensinamento maquiavélico, “os fins justificam os meios”. E foi num Nordeste faminto, ignorante e esmolarizado que o Governo Federal montou a sua base maior de apoio popular. E num Brasil submisso pelo endividamento causado pela política econômica desastrada, na base da chantagem e da ameaça, controla o sistema financeiro e os meios de comunicação.
Ao povo pobre, a esmola; aos ricos, o medo; aos corruptos, a chantagem e ao Brasil esta eleição silenciosa e imprevisível, apesar das previsões!

Ver texto em www.diariodopovo-pi.com.br

terça-feira, setembro 12, 2006

Morfeu venceu o debate

O debate da TV Antena 10, ontem, a mim pareceu que teve um vencedor: Morfeu, o deus do sono na mitologia grega. Sim, porque o avançado da hora aliado à falta de graça dos candidatos, fez com que o sono fosse o melhor companheiro para a quentíssima noite de terça-feira, 11 de setembro.
Os candidatos até que tentaram dar uma esquentada no debate, mas a falta de articulação, de informação e até mesmo de inteligência de alguns transformou o debate, por vezes, em exercício acaciano. Tolice atrás de tolice, algo insuportável para quem gostaria de ouvir frases inteligentes, propostas viáveis e menos ataques que demonstram mais raiva e descontrole que disposição para agir de forma diferente do adversário.
Por conta disso, eu próprio não me interessei muito por aquele festival de chatices em que o debate se transformou. Intercalava momentos de lucidez e sono, como quem tomou um Lexotan. Mas se eu pudesse mesmo dava era um Lexotan para a maioria daqueles candidatos - principalmente os parvos - para que eles parassem de ficar ocupando espaço com suas bobagens supremas.

segunda-feira, setembro 11, 2006

A culpa do PSDB, segundo Bresser

Do ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira na Folha de S. Paulo, hoje:

"Há uma indignação crescente nas elites brasileiras pela provável reeleição de Lula. Seu governo foi medíocre em quase todos os planos e se viu envolvido em um esquema de corrupção ativa como jamais ocorrera no Brasil e, no entanto, as pesquisas o indicam como provável vencedor no primeiro turno. Como explicar esse fato?
Muitos falam no Bolsa-Família, outros no carisma pessoal, outros na ignorância do povo, outros na "boa performance econômica" embora, comparado com 25 países semelhantes, o Brasil tenha-se colocado em 25º lugar em termos de taxa de crescimento.
Proponho uma explicação mais simples. O Brasil está na mesma situação que os Estados Unidos na última eleição presidencial. Bush, como Lula, excedeu quase tudo o que se poderia imaginar em termos de mau governo, mergulhando o país em uma guerra desastrosa sob todos os pontos de vista, mas o Partido Democrata não conseguiu eleger seu candidato porque não tinha uma alternativa real a oferecer ao povo americano. Criticava o erro que foi invadir o Iraque, mas não podia propor a retirada do Exército porque isso seria reconhecer uma derrota que o povo americano não estava ainda disposto a admitir.
No Brasil, o mesmo fenômeno se repete. O desastre de Lula não é apenas moral, é também econômico. No plano moral, o PSDB tem um melhor desempenho do que o PT, mas não soube distinguir caixa dois da corrupção ativa (apropriação de recursos do Estado e suborno de parlamentares), como não soube punir os poucos membros que se viram envolvidos no escândalo. No plano econômico, o Brasil está estagnado há 26 anos, mas o PSDB no governo não foi capaz de mudar esse quadro e, na oposição, não soube oferecer uma alternativa de política econômica à nação."

Troca de guarda não é renovação

Jornalistas têm escrito aqui e ali que um terço dos atuais deputados estaduais - 10 - não devem voltar a ter assento numa das cadeiras vermelhas do plenário da Assembléia Legislativa. Pode ser que sim. Mas o que é lido como renovação pode ser apenas uma troca de guarda.
Pelos números apresentados até aqui, provavelmente o PFL saia perdendo boa parte de suas cadeiras. Mas no lugar dos que perderem vão entrar alguns nomes manjados na política, gente que pode até estar em um partido dito de esquerda - tipo o PDT, o PSB e o PPS - mas com uma forte inclinação às oligarquias rurais.
Entre nomes que podem ganhar uma cadeira na Assembléia Legislativa estão Ismar Marques (PSB) e Adolfo Nunes (PDT). Nenhum dos dois é novidade política e muito menos de esquerda, a despeito de suas atuais filiações partidária. Marques é egresso do PFL, com passagem pelo ninho tucano. Nunes foi do PDS, que depois virou PP. Com efeito, a eleição deles pode ser tudo, menor renovação.
Os exemplos de Nunes e Marques aqui apenas ilustram situações similares, que apenas evidenciam o enfraquecimento de grandes estruturas partidárias, com a honrosa exceção, até aqui, do PMDB, que deve sair da eleição para deputado estadual com a maior bancada.

Morte de um coronel

Marcelo Coelho
No blog da Folha

http://marcelocoelho.folha.blog.uol.com.br/

Leio nas notícias de última hora que o coronel Ubiratan, responsável pelo massacre do Carandiru, foi morto com um tiro no peito em sua casa. E que o diretor do Carandiru na época do massacre morreu em outubro, em crime atribuido ao PCC.
De modo que todo nosso horror diante do massacre do Carandiru recebe, agora, resposta hedionda em assassinatos.
Os defensores dos direitos humanos estão perdendo sua segunda batalha. Perderam pela primeira vez, quando os adeptos do coronel Ubiratan identificavam como ingênua e cúmplice dos bandidos qualquer pessoa que quisesse humanizar os presidios. Perdem pela segunda vez, quando a bandeira da humanização dos presídios, quando a bandeira da condenação aos massacres, é tomada de suas mãos e serve a assassinos.
Lembo, Alckmin, Lula, Covas, Marcio Thomaz Bastos, Saulo Queiroz, Montoro, Maluf: em todos há responsabilidade pelo assassinato da ordem, pelo fascismo apolítico que toma conta de um país que descrê da lei.
Descrê da lei ao ver o Estatuto da Criança proteger psicopatas e estupradores; descrê da lei quando os simples principios de uma cadeia com regras mínimas de funcionamento se vêem adulterados pela corrupção.
Não apenas se faz justiça com as próprias mãos, com o recurso a “justiceiros” e policiais privatizados, num recurso extremo ao banditismo legal. Passa-se, agora, à criminalização dos direitos humanos, à sua instrumentalização em nome do PCC. Por pura incompetência (outro nome para a estupidez e para a barbárie governamental), a civilização se torna sinônimo de assassinato.

domingo, setembro 10, 2006

Exemplos de fraudes às urnas eletrônicas

Primeiramente, é preciso desmistificar a idéia de que o sistema eletrônico eleitoral é, por natureza, imune a fraudes - por perfeição técnica e/ou por natureza biológica das pessoas envolvidas. Se assim fosse, você não acha que o sistema bancário já não teria contratado essas mesmas pessoas que criaram e utilizam o sistema eletrônico das eleições, para pôr fim ao inúmeros golpes existentes, por exemplo, nos caixas eletrônicos e nos bancos via Internet? Contudo, o TSE insiste na cantilena de que "a urna eletrônica é 100% segura", como o Titanic e o World Trade Center também eram.

É fato que existia fraude no modelo tradicional; ninguém defende a volta ao modelo antigo. Mas você acha que, com o novo sistema eletrônico, os fraudadores ficaram "bonzinhos" ou procuraram se aperfeiçoar tecnologicamente? Lembre-se que alguns candidatos seriam capazes de tudo para influir no resultado de uma eleição. Tratam-se de dados muito importantes, pois são a fonte dos poderes de uma nação. Votos valem muito mais do que dinheiro; portanto, o nível de segurança aplicado num sistema eleitoral deve ser altíssimo, fechando todas as brechas possíveis. Todavia, a Justiça Eleitoral orgulhosamente faz vistas grossas para inúmeras deficiências para a qual vem sido devidamente alertada desde 1996.

Acrescente-se que, com a intensa propaganda oficial da infalibilidade da "eleição eletrônica", os partidos políticos (e os fiscais por eles designados) se acomodaram e diminuíram o rigor da fiscalização. E, quando fiscalizam, não têm os recursos financeiros, o tempo e os conhecimentos técnicos suficientes para entender como se processam as fraudes e como é possível evitá-las.

O livro "Fraudes e defesas no voto eletrônico", de Amílcar Brunazo Filho e Maria Aparecida Cortiz (All Print, São Paulo, 2006) elenca e descreve doze maneiras pelas quais pode ser fraudada a eleição eletrônica brasileira (do cadastro eleitoral à totalização).

Selecionei aqui apenas cinco tipos de fraudes de maior repercussão (especialmente as fraudes nº 3, 4 e 5).

A - Fraudes na votação

Votação é a colheita dos votos individuais de cada eleitor.

Nas urnas eletrônicas brasileiras, os votos individuais somente existem virtualmente.
Não existe nenhum documento impresso que materialize a existência de um voto individualmente considerado.

Fraude nº 1 - Clonagem de urnas eletrônicas.

1.1. Como ocorre esta fraude: consiste em trocar as urnas eletrônicas verdadeiras, registradas pelo TSE, por urnas eletrônicas "clonadas", também verdadeiras mas não registradas pelo TSE. Enquanto os eleitores votam na urna "clonada", a urna verdadeira é alimentada por votos fraudulentos em outro lugar. Depois da votação, o presidente da seção deve emitir o boletim de urna e conduzir todo o material no local da totalização dos votos em seu próprio carro. No caminho, porém, ele a trocará pela urna verdadeira, com os votos e o boletim de urna fraudulentos. Há outras variações, em que a votação fraudulenta pode ser feita em outro horário.

1.2. Quem pode fazer esta fraude: exige participação do presidente da seção + algum agente interno da Justiça Eleitoral (ou empresa terceirizada) que forneça a urna "clonada".

1.3. Como evitar esta fraude: os fiscais devem exigir uma via do boletim de urna, no momento em que este for impresso pela urna eletrônica, ainda dentro da seção eleitoral, para compará-la com a outra via do boletim de urna que será entregue pelo presidente da seção à Justiça Eleitoral, para totalização. Problemas: 1 - este cuidado é constantemente omitido pelos partidos e pelos fiscais, confiantes de que o sistema é 100% seguro; 2 - neste ano, o TSE baixou a Resolução nº 22.154/2006, que desobriga os mesários de fornecer uma via do boletim de urna aos fiscais dos partidos.

1.4. Exemplo desta fraude: Guarulhos, 2004.

Fraude nº 2 - Engravidamento de urnas eletrônicas.

2.1. Como ocorre esta fraude: num momento em que a seção eleitoral estiver com pouco movimento, no final da tarde, os mesários, em conluio e na ausência de fiscais, podem votar no lugar de eleitores que ainda não compareceram. Para tanto, basta digitar o número do título de um eleitor que ainda não compareceu, que consta dos cadernos em que os eleitores assinam sua presença. Se, por acaso, algum eleitor cujo título tenha sido digitado fraudulentamente aparecer nos últimos instantes da votação, basta escolher outro número de título de eleitor que não tenha comparecido e digitá-lo para liberar a votação do que compareceu.
2.2. Quem pode fazer esta fraude: os mesários em conluio (até mesmo algum fiscal pode ajudar na fraude); a fraude se torna mais fácil se for na eleição proporcional (para deputado ou vereador), pois cada um dos presentes vota no seu candidato.
2.3. Quem pode evitar esta fraude: os fiscais. Problema: 1 - os partidos confiam na "urna 100% segura" e enviam apenas um representante para várias seções, quando enviam; 2 - os fiscais, também crédulos, se ausentam das seções por várias horas.
2.4. Exemplo desta fraude: Marília, 2004 .

B - Fraudes na apuração:

Apuração é a soma dos votos de uma única urna.
Nas urnas eletrônicas brasileiras, a apuração é feita dentro da própria urna eletrônica, pela soma dos votos em sua memória.
O único documento da apuração é o boletim de urna, impresso pela urna ao final da votação, que nem sempre é entregue aos fiscais.

Fraude nº 3 - Fraude no programa original da urna.

3.1. Como ocorre esta fraude: os programas originais das urnas eletrônicas, gerados pela Justiça Eleitoral e distribuídos para todo o Brasil podem já - em tese - conter arquivos que determinem o desvio de votos, de forma genérica para todas as votações.
Trata-se de uma fraude de largo alcance, que pode eleger um candidato a qualquer cargo. Uma fraude já existente no software original da urna pode desviar votos para um partido político de forma genérica (votos para legenda em candidatos a deputado) ou então atuar de forma específica (por exemplo, quando a foto do candidato contiver um determinado texto oculto que funcione como senha).

3.2. Quem pode fazer esta fraude: programadores desonestos que trabalhem ou prestem serviços à Justiça Eleitoral, com acesso privilegiado ao código-fonte dos programas ou mesmo ao programa compilado. Também poderia ser inoculada, sem conhecimento do TSE, por atacantes externos que conheçam o programa das urnas e que consigam fazer com que sejam instalados programas nos computadores da Justiça Eleitoral (utilizando vírus "cavalos-de-tróia").


Fraude nº 4 - Adulteração dos programas originais das urnas eletrônicas.

4.1. Como ocorre esta fraude: os programas originais de uma certa quantidade de urnas podem ser fraudados de forma que desviem os votos, atingindo uma quantidade determinada de seções eleitorais. A fraude seria feita pela introdução de um programa que desvie votos, por vários métodos: regravação da BIOS com programa fraudado, inicialização por memória externa ou disquete fraudados etc.
4.2. Quem pode fazer esta fraude: qualquer pessoa de dentro da Justiça Eleitoral ou de uma empresa que lhe preste serviços, que tenha acesso a um grupo de urnas eletrônicas (as quais, aliás, passam vários anos armazenadas em depósitos em vários lugares do Brasil), mediante conhecimentos médios de informática e disponibilidade de algum tempo para conhecer o sistema.

As observações a seguir valem para ambos os casos acima (3 e 4):

3+4.3. Como ocultar estas fraudes: o próprio programa fraudulento pode ocultar pistas, mediante fraude na verificação da integridade dos programas da urna e apagamento dos arquivos de registro de utilização da urna (logs). Eventuais lacres físicos rompidos podem ser facilmente substituídos, pois existe grande quantidade disponível. Fraudar é bem mais fácil que descobrir a fraude.

3+4.4. Facilitadores desta fraude: as urnas brasileiras não permitem auditoria da contagem de votos (recontagem). Desta forma, as urnas dependem unicamente da confiabilidade de seus programas de computador. Problemas: 1 - os programas das urnas eletrônicas jamais foram exibidos de forma integral para os partidos políticos; 2 - a parte do sistema das urnas que é exibida é composta de mais de 50 mil programas, que deverão ser analisados em tempo exíguo, utilizando os computadores do próprio fiscalizado (Justiça Eleitoral), que podem ser viciados; 3 - seria necessário garantir que os programas fiscalizados são os mesmos que serão instalados em mais de 400 mil urnas espalhadas por todo o Brasil - e isso não ocorre na prática, por três motivos: a) carência de fiscais, b) falta de treinamento dos fiscais, c) a verificação da assinatura digital é feita pela própria urna que é fiscalizada, que pode ser viciada.

3+ 4.5. Como evitar estas fraudes:
a - auditoria dos programas originais das urnas eletrônicas: para conferir se o programa gerado pelo TSE não contém vícios. Todos os programas da urna devem ser públicos, para que seja possível aos fiscais verificar se não contêm algum comando desonesto.
Problemas: 1 - são mais de 50 mil programas para serem analisados em um prazo exíguo; 2 - o TSE jamais permitiu acesso a todos os programas das urnas eletrônicas, ou seja, jamais houve uma verdadeira auditoria independente das urnas eletrônicas ;
b - conferência da autenticidade dos programas de cada uma das urnas eletrônicas:
para verificar se o programa do TSE, que foi auditado no item anterior, é idêntico ao que é instalado em cada uma das urnas eletrônicas.
Problemas: 1 - se a providência anterior (a - auditoria dos programas originais das urnas eletrônicas) não for realizada adequadamente, de nada adianta conferir se as cópias são idênticas ao original, pois a fraude pode estar embutida no programa original (caso da fraude nº 3); 2 - na prática (por incrível que pareça), os programas continuam sendo modificados pelo TSE depois da auditoria, tornando-a inócua; 3 - a assinatura eletrônica não é suficiente para esta finalidade (conforme conclusão de Ronald Rivest , o próprio criador da assinatura eletrônica); 4 - é humana e tecnicamente impossível aos fiscais conferir a carga de quase 400 mil urnas em todo o Brasil (falta pessoal e treinamento).

c - mecanismo de impressão paralela do voto: para suprir eventuais falhas das medidas acima ( a e b), o Fórum do Voto Eletrônico (secundado por diversos estudos internacionais específicos sobre votação eletrônica) propõe que o voto seja impresso pela própria urna e conferido visualmente pelo eleitor; após confirmação, seria depositado - sem contato físico - em uma urna de saco plástico. Problema: tal medida chegou a ser transformada em lei em 2002, mas nunca chegou a ser implantada oficialmente porque o TSE conseguiu usar de seu poderoso "lobby" para revogá-la no ano seguinte, antes de entrar em vigor em 2004 (foi feito apenas um teste nas eleições de 2002, que foi convenientemente "sabotado" pelo TSE para gerar a idéia de que não deu certo).


3+ 4.6. Exemplo destas fraudes: um teste simulado feito clandestinamente no Paraguai, com urnas brasileiras cedidas pelo TSE ( gravado em vídeo disponível na Internet), demonstra como é possível adulterar os programas oficiais da Justiça Eleitoral brasileira para que, digitando o número de um determinado candidato, o voto seja gravado (=apurado) pela urna em nome de outro candidato.

Contudo... no Brasil, o TSE vem sistematicamente se recusando a fazer um teste de penetração, segundo normas internacionais, para verificar a possível existência de fraudes no programa das urnas (neste ano, uma petição de abril nunca foi julgada pelo TSE, e provavelmente terá o mesmo destino dos anos anteriores: só será "vista" depois da eleição e perderá o objeto).

C - Fraudes na totalização

Totalização é a soma das apurações de cada uma das urnas, feita nos computadores de grande porte, na sede dos Tribunais Regionais Eleitorais. (Não confundir apuração com a totalização. Apuração é a soma dos votos de uma urna eletrônica, que é calculada pela própria urna e materializada no boletim de urna e gravada em disquete.)

Fraude nº 5 - Adulteração nos programas de totalização.

5.1. Como ocorre esta fraude: o próprio programa (original ou fraudado) de totalização da Justiça Eleitoral pode alterar as somas das apurações, desviando votos para determinados candidatos; ou o banco de dados em que são armazenados os votos de todas as seções pode ser diretamente alterado.

5.2. Quem pode fazer esta fraude: servidores da Justiça Eleitoral, empregados de empresas terceirizadas ou terceiros invasores (por acesso direto ou utilizando vírus ou cavalos-de-tróia), por intermédio da rede do TSE. As urnas eletrônicas (que fazem a apuração) não estão em rede, mas os computadores da totalização são acessíveis em rede, potencializando o risco de ataques.

5.3. Como evitar esta fraude: os fiscais. É possível detectar uma fraude na totalização pela simples comparação com as somas dos comprovantes impressos das apurações de cada urna (boletins de urna) - a chamada "totalização paralela".
Problemas: 1 - existem restrições à colheita dos boletins de urna nas próprias seções eleitorais, no momento em que são geradas (ver item 1.3), 2 - os partidos políticos, crédulos na impossibilidade de fraudes, se descuidam em exigir os boletins de urna em cada seção para uma totalização paralela, 3 - a imprensa, como já obtém os resultados oficiais com facilidade nos telões dos TREs, não se interessa mais em manter dispendiosos esquemas de totalização paralela.

5.4. Exemplos desta fraude: Rio de Janeiro, 2002 (alguns candidatos a deputado acordaram com menos votos do que tinham quando foram dormir na noite anterior - Jornal do Brasil, 11/06/2006).
Brasil, 2002 (em certo momento da totalização do primeiro turno da última eleição presidencial, o candidato Lula surgiu no telão do TSE com 41 mil votos negativos. Como os programas de totalização somente SOMAM votos, é no mínimo estranho que um candidato possa ter votos negativos, a não ser que exista algum comando no programa destinado a subtrair votos de um candidato. A Justiça Eleitoral nega o fato, testemunhado por todos os jornalistas então presentes. O caso nunca foi explicado. Não custa lembrar que Lula não ganhou a eleição de 2002 no primeiro turno por uma pequena margem de votos).

Agradeço pela sua paciência em ler toda esta longa mensagem. Tenha certeza de que, um dia, este assunto ainda vai render... E você terá a consciência tranqüila por ter percebido antes de todo mundo a importância do assunto (e contribuído para a mudança).

Paulo Gustavo Sampaio Andrade

Mão Santa e os erros que podem derrotá-lo

Confirmadas as atuais pesquisas, que asseguram vitória de Wellington Dias (PT), o senador Mão Santa (PMDB) pode virar um caso para estudo de especialistas em ciência política: perdeu uma eleição dois anos antes e corre o risco de perder outra quatro anos depois.
Mão Santa começou a perder a atual eleição quando, em 2004, pôs em marcha duas campanhas eleitorais nas duas principais cidades do Estado. Quis voar alto demais e não tinha nem o equipamento adequado e nem a tripulação para colocá-lo em céu de brigadeiro. O resultado é que perdeu em Teresina, com a mulher Adalgisa, e em Parnaíba, com o filho Júnior Mãosantinha.
Como além de duas candidaturas partia para a política como uma ação familiar - portanto oligárquica - o senador viu murcharem os apoios políticos e, pior, a grande admiração popular que cultivou com seu jeito simpático e até debochado.
A perda de apoio político fê-lo mais fraco na estrutura partidária do PMDB, sobretudo porque líderes locais não ficaram à vontade em apoiar com a mesma gana um homem que, pela necessidade de uma eleição em família, virou-lhes as costas.
Entre os eleitores deu-se a percepção de que o senador, que tanto combateu malfeitorias familiares dos adversários, não conseguiu se livrar desta prática inequivocadamente inadequada, mantida, aliás, em todas as cores políticas- inclusive a vermelha do PT e a indefinida do PSB do vice de Wellington, Wilson Martins, que tem a mulher na disputa por uma vaga na Assembléia.
Ora, duas perdas - a política e a eleitoral - fizeram de Mão Santa um mito de pés de barro. Ele mantém uma considerável parcela do eleitorado, mas a parte que decide virou-lhe as costas porque nele não identificou os elementos novos de uma política onde os laços consangüíneos sejam desconsiderados em favor damaioria.

terça-feira, setembro 05, 2006

A reforma do Zé Dirceu

Está no globo do Josias Sousa, na Folha on Line:
Reforma política vira bóia para resgatar Dirceu
O petismo vem apresentando a reforma política como remédio que a tudo remedia. Lula chega mesmo a insinuar que só há escândalos, um atrás do outro, porque a política não foi reformada.
Ao tomar posse, em janeiro de 2003, Lula prometera, entre outras coisas, priorizar a reforma política e acabar com a corrupção (assista). Não reformou nada. E não viu coisa nenhuma.
Agora, Lula diz que a roubalheira não é fruto de “erro individual ou partidário”, mas resultado "dos acúmulos das deformações da estrutura política" (assista). Pois bem, a pretexto de endireitar as coisas, trama-se nos subterrâneos do petismo uma tortuosidade: a anistia política de José Dirceu.
O repórter Raymundo Costa (assinantes do Valor) informa que o desejo de cavar um perdão para o ex-chefão da Casa Civil freqüenta até as preocupações do Planalto. “A anistia seria específica para quem recebeu punição política. Nessa categoria, estariam enquadrados José Dirceu e o ex-deputado Roberto Jefferson, acusado e acusador no caso do mensalão (...)”.
Era só o que faltava. Dos 19 congressistas encrencados no fenômeno do mensalismo, só três tiveram a cabeça apartada do pescoço –Jefferson, Dirceu e o deputado Pedro Corrêa (PP-PE).
Se vier a anistia, o dramalhão ganhará ares de comédia-pastelão. De tudo sobrará uma lição que a política ensina: político jamais aprende.

Veja o Blog do Joais em:
http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2006-09-03_2006-09-09.html#2006_09-04_09_05_09-10045644-0