terça-feira, novembro 21, 2006

Vespeiro em 2007

Previsões para 2007 vão sair aos montes, mês que vem, em telejornais sérios e em programas de variedades nas TVs locais. Como de vez em quando gosto de agir como um babalorixá, lá vai uma previsão: Wellington Dias vai ter problemas grandes em 2007 com essa idéia de transformar empresas estatais fantasiosas em autarquias.
Há como sempre as implicações políticas. Mudar o status destes organismos requer uma negociação que nem sempre passa pelo paraíso das boas intenções. E é aí que mora o perigo: qualquer mudança que exija projetos no Legislativo podem resultar em concessões que terminam por não deixar pedra sobre pedra na vontade de resolver os problemas.
Mas além dos políticos ávidos por quinhões em cada uma das estatais fantasmagóricas transformadas em autarquias, os empregados destas também tendem a exercer seu legítimo direito de pressão. Sim, porque há implicações na relação de trabalho e na legislação que vai reger esse contingente de pessoas. E isso, para muitos, soará como possibilidade de perdas salariais ou de vantagens corporativas e pessoais.
Wellington, podem esperar, vai viver dias bem intensos em 2007.

Inegociável é a competência

O Partido dos Trabalhadores criou um adjetivo nessa guerra em que se transformou a ocupação de nichos no governo de Wellington Dias: pastas inegociáveis. Com apetite crescido e uma gana por cargos que se espalha como virose letal, os petistas incluíram a Cepisa na lista das "inegociáveis", uma empresa que agoniza e precisa mesmo é de uma gerência competente, não de um indicado por filiação ou ideologia partidária.
Parece-me razoável supor que, não querendo abrir espaços para os aliados, o PT tenha em seus quadros tudo o que não enxerga nos adversários: competência, votos e postura ética irrepreensível. Como não acredito que não haja no PT essa excelência toda, acredito que sobra pedantismo e arrogância, mas há uma falta generalizada de humildade para aceitar que o partido não ganhou a eleição sozino nem que tenha o monopólio da competência e da honestidade.
Em um Estado que no ano passado teve redução do ritmo de expansão da economia (ninguém no governo ou na mídia viu isso?), inegociável é competência para gerir os recursos público e melhor aplicar as energias em favor de desenvolvimento econômico duradouro.
Há entre os petistas mais arejados os que raciocinam dessa maneira: o governo é de coalização e deve seguir planos e metas comuns não ao PT ou a qualquer outro partido, mas aos interesses do Estado. Infelizmente, essa gente de bom senso está cada vez mais parecida com São João Batista, o Evangelista, que pregava no deserto.

The Economist diz que o Brasil é 'democracia imperfeita'

Eu sempre desconfiei disso, mas agora o mais respeitável jornal econômico da Europa confirmou: estamos longe de sermos uma democracia plena. Segundo The Economist, o Brasil está no grupo das "democracias imperfeitas", na companhia de países como a Itália, Botsuana e Chile.
O Brasil perdeu para dois países pequenos, a Costa Rica, que há meio século dispensou o uso do Exército, e o Uruguai, que elegeu há coisa de um esquerdista democrático, Tabaré Vasquez para seu presidente.
O texto abaixo foi publicado e O Estado de São Paulo e o repasso, sem tirar nem pôr, nesta retomada do blog, que vai trilhar também outros caminhos, pelo menos se depender de mim, já que não falei com o Fenelon Rocha a esse respeito.

"Existem apenas 28 democracias plenas, diz The Economist"
LONDRES - Cerca da metade dos países do mundo têm regimes que podem ser qualificados de democráticos, mas em apenas 28 há uma democracia plena, segundo a publicação "O Mundo em 2007" do The Economist.
Os autores do relatório, do Economist Intelligence Unit, afirmam que 54 regimes são "democracias imperfeitas", o que, segundo eles, é melhor que a ausência total de democracia. Dos 85 outros Estados, 30 são considerados "regimes híbridos", enquanto 55 são "autoritários".
O grupo das "democracias plenas" está dominado pelos países desenvolvidos, com a "notável exceção" da Itália; mas há duas nações latino-americanas (Costa Rica e Uruguai) e uma africana: Ilhas Maurício.
A lista é liderada pelos países escandinavos ou do norte da Europa: Suécia (com pontuação 9,88), Islândia, Holanda, Noruega, Dinamarca e Finlândia, seguidos de Luxemburgo, Austrália, Canadá, Suíça e Irlanda, todos eles com pontuações superiores a 9, em uma escala de 0 a 10.
Malta vem em 15º lugar, seguido por Espanha e Estados Unidos, enquanto Portugal está na 19ª posição; Japão e Bélgica compartilham o 20º lugar; e a França vem em 24º, seguida de Costa Rica, ilhas Maurício, Eslovênia e Uruguai, empatados no 27º lugar.
Os autores do estudo qualificam de surpreendente a "modesta posição" que ocupam dois países considerados tradicionalmente bastiões da democracia: os Estados Unidos (pontuação: 8,22) e Grã-Bretanha, que está em 23º com 8,08 pontos.
Nos Estados Unidos, houve uma "grande erosão das liberdades civis" no contexto da guerra contra o terrorismo, e ocorreu algo parecido na Grã-Bretanha, onde se registra "uma forte redução da participação política".
Neste último aspecto, a Grã-Bretanha ocupa o pior lugar entre os países ocidentais, como se reflete em sua baixa participação eleitoral, na débil militância em partidos políticos, na pouca disposição a participar da política e na atitude geral para com a coisa pública.
No grupo seguinte, o de "democracias imperfeitas", estão África do Sul (29º), Chile (30º), Itália (34º), Índia (35º) e Botsuana (36º).
Outros países latino-americanos e do Caribe neste grupo são Brasil (42º), Panamá (44º), Jamaica (45º), Trinidad e Tobago (48º), México (53º), Argentina (54º), Colômbia (67º), Honduras (69º), El Salvador (70º), Paraguai (71º), Guiana (73º), República Dominicana (74º), Peru (75º), Guatemala (77º) e Bolívia (81º).
Novos membros da União Européia e países dispostos a fazer parte do bloco também estão neste grupo, como Eslováquia (41º), Polônia (46º), Bulgária (49º), Romênia (50º).
Os Estados de Israel (47º), Filipinas (63º), Indonésia (65º) e Benin (71º) também são considerados "democracias imperfeitas".
Entre os países de regimes híbridos estão Turquia (88º), Nicarágua (89º), Equador (92º), Venezuela (93º), Rússia (102º), Haiti (109º), Iraque (112º) e vários países africanos: Senegal, Gana, Moçambique, Zâmbia, Libéria, Uganda e Quênia, entre outros.
No grupo de regimes autoritários há apenas um país latino-americano, Cuba (124º), mas muitos islâmicos se encaixam nesta definição, como Paquistão (113º), Jordânia (113º), Marrocos e Egito (115º), Argélia (132º), Irã (139º) e Arábia Saudita (159º).
Outros como China (138º), Guiné Equatorial (156º), Guiné e Guiné-Bissau também têm regimes autoritários, segundo The Economist.