PSDB precisa redescobrir o povo
Paulo Moreira Leite
Publicado no Blog do Estadão, em 14/09/2006
Há muito tempo que venho dizendo que o problema da campanha de Geraldo Alckmin não é marketing. É política. Minha visão é que ele não conseguiu mostrar o país que carrega no coração – e por essa razão não consegue atrair mais votos que o tradicional eleitorado tucano. Seu cesto de intenções de voto é só um pouco maior que o de José Serra em 2002, o que é um absurdo quando se considera o que ocorreu nos quatro anos do governo Lula e a fragilidade dos demais concorrentes de oposição.
Acho que o PSDB precisa voltar ao povo. E essa é a prioridade para entender o que acontece agora e também quando se fala sobre 2010. O problema não é a disputa entre Aécio Neves e José Serra. Ou sobre o destino de Geraldo Alckmin, caso as urnas de 2006 confirmem o que está escrito nas pesquisas e Lula seja reeleito.
Em 1994, quando fez o Plano Real e garantiu a estabilidade da moeda, Fernando Henrique Cardoso garantiu a própria eleição porque soube estar junto ao povo e foi eleito pela turma C, D e E. Esse é o pessoal que decide uma eleição direta e que hoje muitos observadores tucanos definem como mal-nutridos e desinformados. Em 1994 Lula estava com um pé no Planalto mas depois do Real foi obrigado a fazer o caminho de volta e esperar oito anos. A razão? Apesar do carisma popular nulo, FHC estava aonde o povo está – este é o lugar dos artistas, como disse Milton Nascimento, e também dos políticos.
O PT precisou de oito anos para entender o valor da estabilidade, sem a qual teria tido muito mais dificuldades para eleger Lula em 2002 e sem a qual não teria conseguido governar a partir da posse. O PSDB enfrenta agora um problema semelhante, na área social.
Não se deve esquecer o mensalão e sua escória, nem por um momento. Deve-se rejeitar o "não sabia de nada" e denunciar a vergonha produzida no Congresso. É preciso cobrar tudo de bom que poderia ter sido feito e não foi -- a começar por um crescimento econômico mais decente.
Mas em política é preciso olhar para aquilo que o povo está olhando: comida barata, crédito acessível, ajuda aos mais necessitados, bolsa para entrar em faculdade privada.
É difícil negar que o governo Lula deu uma resposta para problemas importantes para milhões de brasileiros. Pode ser insatisfatória, incompleta e até demagógica, como sustentam economistas tucanos. É claro que falta porta de saída para o Bolsa-Família, o que é grave.
Mas é inegável que hoje a massa de pobres e excluídos ganhou espaço no Estado – e por isso se reconhece o presidente. Sem reconhecer isso, o PSDB estará condenado a comentar os acontecimentos. Pode falar em populismo, aparelhamento do Estado e levantar o fantasma do autoritarismo. Esta é a crítica que se espera da oposição a um governo do PT. Mas só com isso o PSDB não será ouvido pelo povo. Ficará de comentarista da vida política. Esse é ponto.
FHC foi eleito em 1994 dizendo que o Brasil era um país injusto. Estava certo.
Ver Blog do Paulo Moreira Leite em http://blog.estadao.com.br/blog/paulo/
Publicado no Blog do Estadão, em 14/09/2006
Há muito tempo que venho dizendo que o problema da campanha de Geraldo Alckmin não é marketing. É política. Minha visão é que ele não conseguiu mostrar o país que carrega no coração – e por essa razão não consegue atrair mais votos que o tradicional eleitorado tucano. Seu cesto de intenções de voto é só um pouco maior que o de José Serra em 2002, o que é um absurdo quando se considera o que ocorreu nos quatro anos do governo Lula e a fragilidade dos demais concorrentes de oposição.
Acho que o PSDB precisa voltar ao povo. E essa é a prioridade para entender o que acontece agora e também quando se fala sobre 2010. O problema não é a disputa entre Aécio Neves e José Serra. Ou sobre o destino de Geraldo Alckmin, caso as urnas de 2006 confirmem o que está escrito nas pesquisas e Lula seja reeleito.
Em 1994, quando fez o Plano Real e garantiu a estabilidade da moeda, Fernando Henrique Cardoso garantiu a própria eleição porque soube estar junto ao povo e foi eleito pela turma C, D e E. Esse é o pessoal que decide uma eleição direta e que hoje muitos observadores tucanos definem como mal-nutridos e desinformados. Em 1994 Lula estava com um pé no Planalto mas depois do Real foi obrigado a fazer o caminho de volta e esperar oito anos. A razão? Apesar do carisma popular nulo, FHC estava aonde o povo está – este é o lugar dos artistas, como disse Milton Nascimento, e também dos políticos.
O PT precisou de oito anos para entender o valor da estabilidade, sem a qual teria tido muito mais dificuldades para eleger Lula em 2002 e sem a qual não teria conseguido governar a partir da posse. O PSDB enfrenta agora um problema semelhante, na área social.
Não se deve esquecer o mensalão e sua escória, nem por um momento. Deve-se rejeitar o "não sabia de nada" e denunciar a vergonha produzida no Congresso. É preciso cobrar tudo de bom que poderia ter sido feito e não foi -- a começar por um crescimento econômico mais decente.
Mas em política é preciso olhar para aquilo que o povo está olhando: comida barata, crédito acessível, ajuda aos mais necessitados, bolsa para entrar em faculdade privada.
É difícil negar que o governo Lula deu uma resposta para problemas importantes para milhões de brasileiros. Pode ser insatisfatória, incompleta e até demagógica, como sustentam economistas tucanos. É claro que falta porta de saída para o Bolsa-Família, o que é grave.
Mas é inegável que hoje a massa de pobres e excluídos ganhou espaço no Estado – e por isso se reconhece o presidente. Sem reconhecer isso, o PSDB estará condenado a comentar os acontecimentos. Pode falar em populismo, aparelhamento do Estado e levantar o fantasma do autoritarismo. Esta é a crítica que se espera da oposição a um governo do PT. Mas só com isso o PSDB não será ouvido pelo povo. Ficará de comentarista da vida política. Esse é ponto.
FHC foi eleito em 1994 dizendo que o Brasil era um país injusto. Estava certo.
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