segunda-feira, setembro 18, 2006

Os demônios de Lula atemorizam

Repercutiu mal, muito mal, a declaração do presidente Lula sobre a vontade íntima que tem de fechar o Congresso e promover as reformas que precisam ser feitas.
Aqui no Brasil a reação foi tímida. E o governo tratou de colocar tudo na conta do clima eleitoral.
Mas fora do Brasil a reação foi ruim. O motivo é simples: o velho autoritarismo latino-americano ainda causa arrepios vez ou outra. E Lula hoje é, na conta dos europeus e norte-americanos, apenas "mais um" presidente latinoamericano, longe das promessas de algo novo e diferente alimentadas com sua eleição, em 2002.
Lula não oferece o sonho de uma nova política. Sequer de uma nova América Latina ou de um novo Brasil. Depois dos escândalos de corrupção e do uso do dinheiro público de forma escancarada, o presidente que deveria ser da mudança caiu na vala comum. E muitas vezes é visto como mais elameado que muitos de seus antecessores.
Não foi sem preocupação que jornais do mundo inteiro reproduziram a notícia dos demônios lulistas, um furo do rigoroso e excelente jornalista Elio Gaspari. Vale recordar: em reunião com empresários, ao ser indagado por Eugenio Staub (Grupo Grandiente) sobre as reformas que precisam ser feitas, o presidente usou da fácil oratória para fazer uma graça que simplesmente não tem propósito:
- Staub, não desperte o demônio que dorme em mim, porque tenho vontade de fechar esse Congresso e fazer o que se deve fazer - disse Lula.
Naturalmente, ninguém está achando graça da frade se Lula.
Pior: a nota do Palácio do Planalto não nega a declaração. Tenta dizer que foi descontextualizada e que o presidente defende a democracia.
A história de Lula é de compromisso com a democracia. Mas a frase é de uma infelicidade sem par, capaz de macular a própria trajetória do presidente.

Veja a notícia do El Pais, da Espanha:
www.elpais.es/articulo/internacional/demonio/duerme/Lula/elpporint/20060918elpepuint_1/Tes/