terça-feira, outubro 31, 2006

Tremo de medo só de pensar nisso

Quando Tarso Genro decretou “o fim da era Palocci” sem ao menos consultar o presidente Lula, senti um frio na espinha. Trata-se não apenas de uma frase solta ao vento, mas de uma constatação de que os petistas cansaram da ortodoxia econônomica que valeu ao seu chefe 58 milhões de votos. Está em curso, podem apostar, algum tipo de mudança na economia. E não é para melhor.

A eleição de domingo não foi somente de renovação do mandato do presidente. O pleito fortaleceu os músculos do petismo que aposta em mais intervencionismo estatal – tanto é prova que a campanha publicitária usou a privatização como um fantasma para assustar os eleitores. O PT que adora uma heterodoxia econômica está mais forte do que nunca. Pior para o país.

Com força renovada, os chamados “desenvolvimentistas” podem determinar rumos para a economia. E quais seriam eles se não um aumento dos gastos e investimentos públicos, ainda que isso represente a possibilidade da volta de uma inflação de demanda, que mais tarde vai alimentar os juros, que já vinham progressivamente baixando. Quer dizer: há quem queira que o governo gaste mais, para que o país cresça mais rapidamente, sem fazer reformas necessárias, apenas para crescer a garantir a vantagem eleitoral de agora. Simples: programas sociais como o Bolsa Família se esgotam e é preciso mais que isso para manter o povo cordato e dando a Lula vitórias de goleada. O cenário perfeito para a vitória “desenvolvimentista”, pois, está desenhado. Ou se muda a política econômica (para melhor por algum tempo, para muito pior por muito tempo depois da curta fase de vacas falsamente gordas) ou o eleitor muda o governo em quatro anos.

Diante dessas possibilidades nada agradáveis e, apesar de Palocci não ser um homem de quem eu compraria um carro usado, sinceramente ainda preferiria que Lula mantivesse o país na “era Palocci”. Pelo menos o maior sobressalto que se tem é de um ministro que não respeita seu cargo e persegue um pobre-diabo chamado Francenildo.

A raiva do PT contra a mídia

Gilberto Dimenstein
Folha On Line, 31.10.2006

Lula eleito, militantes do PT apontaram, esfuziantes, que os meios de comunicação estavam entre os derrotados; alguns deles chegaram mesmo a hostilizar raivosamente os jornalistas. Refletem as reclamações de Lula e de muitos de seus assessores.
Interessante essa manifestação: tantos anos depois de neutralizados os militares, ainda não se tem claro, em vários setores, o papel da imprensa. O que só revela um cacoete autoritário.
Não vou negar que algumas reportagens e mesmo veículos de comunicação cometeram erros e exageros. Mas, no geral, os jornalistas fizeram o que tinha mesmo de fazer: vasculhar e incomodar o poder. E o fato é que o PT deu sobras de motivos para ser vasculhado na questão ética e administrativa.
Na oposição, o PT foi um beneficiário dessa atitude dos meios de comunicação. Muitos de seus dirigentes, a começar de Lula, estavam sempre à frente dos ataques contra os deslizes e roubalheiras. O PT cresceu, entre outras razões, por que vendeu a imagem (até certo ponto correta, vamos reconhecer) de limpeza, mas depois, no poder, não soube separar o público do privada.
É fundamental que os dirigentes do partido e seus representantes do governo sejam responsáveis e não permitam que se desmoralize ou se afete a importância da liberdade de imprensa.
Texto disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult508u330.shtml

O sonho com o Diário Oficial
Pelo jeito, imprensa é que nem pesquisa: só presta quando está a favor da gente. Quando não está, é comprada, é tendenciosa, é manipulada.
Pois bem: do jeito que criticam a imprensa nacional por ser razoavelmente crítica, os petistas adoram a imprensa piauiense, em geral rasgadamente subserviente. Nem um pouco crítica.
Dá pra entender?
Eu, cá comigo, sigo o ensinamento de mestre Millôr, para quem não existe imprensa a favor de governo.
Não quer dizer que tenha que ser contra. Mas tem que ser vigilante, crítica.
E isso os governistas do momento não parecem querer entender. Ou aceitar.
Repetem os erros de governos anteriores também nesse quesito.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Política Externa: Lula fora do ar

William Waack
Portal G1, 30/10/2006, às 11h10m

Os outros fizeram mais cedo o que o Brasil ainda nem pensou em começar a fazer, e as primeiras palavras de Lula reeleito não dão a sensação de que ele realmente sabe o que está acontecendo lá fora. É uma tremenda competição internacional, em especial entre os países que podem ser comparados ao Brasil (os grandes e continentais, como China, Índia, Rússia, África do Sul e, em boa medida também, México, Indonésia).
Todos têm uma noção muito grande da concorrência por mercados, por importância nas decisões políticas. A alguns, a geografia e a história impõem escolhas e atitudes. O Brasil parece sortudo: não vive na carne nenhum dos principais conflitos internacionais - terrorismo, fanatismo religioso, ondas migratórias, disputa por recursos energéticos (petróleo) ou escassos (água). Talvez isso ajude a explicar esse gigante embevecido de si mesmo, como Lula deixou óbvio com seus auto-elogios em matéria de política externa.
As primeiras palavras de Lula reeleito não devem ser tomadas como um programa de governo. Ninguém poderia esperar que pudessem ter sido uma detalhada lista de medidas a serem tomadas. Mas são excelentes para se entender um estado de espírito. E ele sugere que se está lutando as batalhas do passado. O presidente parecia orgulhoso de dizer que hoje ninguém mais fala em Alca. Pudera: nem mais os americanos estão interessados nisso, depois de terem firmado com um bom número de países acordos bilaterais que deixam o Brasil falando sozinho.
Lula parecia falar também de um personagem inexistente, quando desdobrou-se em elogios ao Mercosul - que não é capaz de agir como bloco, sofre da mais básica falta de solidariedade interna, está se politizando no mau sentido da palavra e faz os negociadores europeus se perguntarem o que, afinal, os sul-americanos realmente querem. Falar grosso e negociar mal?
Faz parte do discurso padrão de mandatários de países emergentes - do México às Filipinas, passando, claro, pelos antigos países comunistas do Leste europeu - menções à necessidade de se adaptar às rápidas transformações econômicas internacionais. Eles manifestam-se preocupados com a concorrência representada por mão-de-obra mais barata em outros lugares e, no caso da Índia, mão-de-obra ainda por cima falando inglês e em muitos casos bastante bem preparada.
Esse tipo de preocupação não existe em Lula ou, pelo menos, não transparece em suas palavras. Nem se vê qualquer sentido de urgência, enquanto os outros parecem obcecados em recuperar ou não perder tempo. O berço esplêndido no qual repousamos anda de rodinhas, enquanto os outros países voam a jato na compreensão de que estão obrigados a mudar para concorrer, ou ficam irremediavelmente para trás.
Isso vale para todo tipo de política - para citar apenas um exemplo: vale para reformar sistemas previdenciários, como o brasileiro, que obrigam o Estado a gastar sempre mais, dificultando investimentos (para Lula, a crise do INSS pode ser resolvida com crescimento e combate às fraudes, uma visão ridicularizada por especialistas de várias tendências políticas).
Talvez as palavras mais grandiloquentes pronunciadas pelo presidente reeleito tenham sido as de que o Brasil deixará de ser um país emergente ainda em seu segundo mandato. Há um lado positivo nessa afirmação: ao contrário do que disse durante a campanha, Lula está, sim, comparando o Brasil a outros países, e não apenas a si mesmo.
Infelizmente, o presidente reeleito não deu a menor idéia como o País deixará de ser um país emergente.
Texto disponível em:
http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,AA1331287-5601,00.html

Blog certeiro: Alckmin tem menos votos

Como previsto aqui neste blog, Geraldo Alckmin teve menos votos no segundo turno do que no primeiro. Foram 39,9 milhões de votos em primeiro de outubro, contra os 37,5 milhões de ontem, o que significa 2,4 milhões de votos menos.
A diferença se explica em parte pelo voto de castigo contra Lula: muitos eleitores, descontentes com o escândalo do dossiê e o comprometedor silêncio do presidente (que não foi ao último debate na TV), resolveram votar em Alckmin, o que provocou o segundo turno. Esse movimento é confirmado pelo diretor do DataFolha, Mauro Paulino, acrescentando que boa parte desse eleitorado voltou para os braços de Lula na votação de ontem. “Nossas pesquisas mostram que 14% dos eleitores que votaram em Alckmin no primeiro turno migraram para Lula”, disse ele ao site G1.
Na segunda volta da disputa eleitoral, o noticiário sobre dossiês e coisas tais simplesmente esfriou. E isso possibilitou o crescimento de Lula sobre os votos dados a Alckmin no primeiro turno.
O ditetor do DataFolha acredita que Alckmin provavelmente absorveu votos dos candidatos que não participaram do segundo turno, mas a “sangria” para o petista teria sido maior. Paulino disse que é “um fato político raro” um candidato terminar o segundo turno com menos votos que os obtidos no primeiro.
Veja matéria completa no G1 em:
http://g1.globo.com/Noticias/Eleicoes/0,,AA1330734-6282,00.html


Sarney perde o poder
O senador José Sarney bem que foi fustigado no Amapá e viu sua reeleição ameaçada. Mas conseguiu manter o posto. No Maranhão, no entanto, teve que amargar a derrota da filhota Roseana. O pedetista Jackson Lago, que completa 72 anos daqui a dois dias, foi eleito governador com 51,82% dos votos (1.392.754), contra 48,18% (1.295.880) de Roseana.
Com essa vitória, Lago derrota talvez o último grande curral eleitoral do país.
Sarney dominava o Maranhão há 40 anos, desde que foi eleito governador, em 1966. E o fazia com cabresto curto: desde então, nenhum governador tinha sido eleito sem seu aval, nem mesmo o quase eterno adversário Cafeteira, em 1986.
Sarney mantém seu poder no Congresso, onde segue senador, como Roseana. E Zequinha como deputado. Mantém ainda um grande grupo de aliados. Mas perder a boquinha do Maranhão vai fazer uma diferença danada.
Ver matéria completa no G1:
http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,AA1330502-5601-627,00.html

domingo, outubro 29, 2006

Lula e Alckmin, qual diferença?

No Brasil, a discussão é quente. Há ataque de parte a parte, os partidários de Lula e Alckmin esgrimindo discursos sobre propostas que parecem distintas. Fora do Brasil, a abordagem sobre as eleições brasileiras é menos apaixonada. E para a imprensa internacional, a disputa nesse domingo não colocou em confronto dois projetos, e sim dois estilos diferentes.
A análise do El Pais, de Madrid, é muito clara. O título já é explícito: "Um proyecto, dos talantes". Tradução: Um projeto, dois estilos (ou jeito de ser). O texto da reportagem vai mais fundo:
"Aparentemente, Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin não podem ser politicamente mais diferentes. No entanto, na substância não são tanto. Diferencia os mais o jeito de ser e a história de cada um (...). Lula é homem passional, de massas, com um formidável carisma pessoal, um mito. Alckmin, ao contrário, é um político frio, um perfeito gestor da política, racional".
O jornal espanhol (www.elpais.es), com insuspeita posição de centro-esquerda, resume que os dois não apresentaram em campanha um projeto de nação, sequer um projeto que os distinguisse.
Isto explica, por exemplo, porque não há nenhum sobressalto no mercado quanto ao resultado eleitoral deste domingo. O que ganhar não muda nada. Porque então perder o sono?
Essa realidade é bem distinta da que aconteceu em 2002, quando o discurso e o histórico de Lula faziam crer, pelo menos, em rumos novos na política econômica. Isso deixava o mercado (os investidores, as grandes empresas, o sistema financeiro) com muita expectativa.
Como se viu, a política de Lula foi tão liberal quanto a de FHC. E os investidores (sobretudo o mercado financeiro, que nunca ganhou tanto) agradecem.
Resta esperar como será o próximo mandato de Lula, que tende a ser (é preciso ser) diferente desse que acaba em 31 de dezembro.
Resta saber para onde vai essa diferença.

Ver texto completo do El Pais em:
http://www.elpais.es/articulo/internacional/proyecto/talantes/elpporint/20061029elpepiint_13/Tes/

quinta-feira, outubro 26, 2006

O apoio de Lula a Roseana é político, não eleitoral

Roseana Sarney apareceu nas primeiras páginas dos jornais de Teresina e também em alguns jornalões nacionais de mãos erguidas com Lula. O presidente foi a Timon dar apoio à senadora pefelista, que tenta pela terceira vez chegar ao Governo do Maranhão, só que agora com uma dificuldade grande para convencer o eleitor e vencer a disputa.
Existe uma grande possibilidade da filha mais famosa do senador Sarney chegar no domingo sem a taça de vencedora, pondo fim a 41 anos de vitórias seguidas do seu pai. Nem mesmo a presença de Lula, o vermelho de suas peças de campanha, colada na de Lula e o esforço do pai parecem comover os eleitores maranhenses. Roseana está atrás nas pesquisas, com gigantescas desvantagens em cidades maiores, sobretudo São Luís e Imperatriz.
Com a iminente derrota de Roseana, por que o presidente Lula teria ido apoiá-la, criando problemas com a seção petista maranhense, que apóia Jackson Lago (PDT)? O apoio do presidente à senadora pefelista foi explicado pelo próprio como uma questão de gratidão, de lealdade a uma política que, em 2002, desde a primeira hora, esteve com ele.
Razoável se imaginar que o apoio do Lula a Roseana não é eleitoral, ou seja, com o objetivo de desbancar Jackson Lago, aparentemente beneficiado por um efeito manada, aquele em que o eleitorado muda de lado aos montes. O apoio presidencial, neste caso, seria político e pode ter um sentido de assegurar a lealdade de Sarney, da própria Roseana e de outros congressistas controlados pelo ex-presidente. Assim, mesmo não podendo transferir sua imensa massa de votos para Roseana (até porque no Maranhão as duas partes em disputa votam nele), Lula assegura que em seu segundo mandato disporá de um apoio parlamentar nada desprezível, representado peça bancada sarneysista.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Lula, uma enxurrada de votos

As eleições serão domingo, mas creio que nem o Alckmin acredita que haja alguma coisa a ser definida. Lula vai ganhar. E ganhar com uma vantagem assombrosa.
Deve colocar mais de 20 milhões de votos de vantagem sobre um Alckmin que pode ter menos votos que o primeiro turno.
Para que Lula não coloque algo como 20 milhões de frente, será necessário que os institutos de pesquisa estejam divulgando números bem distantes da realidade. Ou que a abstenção no domingo seja bastante acima da média. Se ficar em patamares históricos, e as pesquisas não estiverem furadas, o presidente pode comemorar esse feito.
No primeiro turno, as pesquisas estiveram corretas. Os ùnicos "erros" destacáveis foram as furadas (grandes furadas, diga-se) para os governos do Maranhão e Bahia.
Voto de castigo - Diante da possível diminuição dos votos de Alcmkin, vale uma explicação: de verdade, Lula foi vítima de sua arrogância, que agravou as dúvidas sobre o último escândalo de seu primeiro governo, o da compra de dossiê. Certo que venceria no primeiro turno, o presidente se portava como Senhor do Povo, olhava de cima para baixo, tomava as coisas com desdém. E ainda fez muxoxo para o dossiêgate.
Uma pequena fatia do eleitorado - suficiente para impedir a maioria absoluta, de onde Lula esteve muito perto - resolveu castigar o presidente. Decidiu votar na oposição (em croncreto, no tucano de plantão), levando a disputa para o segundo turno. Agora, esse eleitorado retorna aos braços do presidente, que ainda recebe a quase totalidade dos votos de Heloisa Helena e de Cistovam Buarque.
Mas Alckmin não deve chorar. De fato, foi muito além do que a maioria esperava dele. Foi além inclusive do que boa parte da cúpula do seu partido desejava.

terça-feira, outubro 24, 2006

Lula, as elites e a lealdade de Roseana

Lula subiu no palanque em Timon ao lado de Roseana Sarney e do pai dela, o senador José Sarney. Junto com dois dois mais legítimos representantes da elite política do Maranhão, no poder desde 1966, Lula disse que Sarney (o senador) sabe que "essa elite conservadora" nunca aceitou um presidente que trabalhasse pelos pobres.
O presidente disse que a tal elite conservadora fez com ele a mesma coisa que cometeu contra Getúlio, Juscelino, Jango e Jânio. Exagero de Lula. À exceção de Jango, que era um diletante, a elite, muito ao contrário, sempre gostou um bocado dos presidentes citados, ganhou muito dinheiro sob a Presidência deles, fez excelentes negócios.
Aliás, do discurso de Lula em Timon, aproveitam-se as palavras sobre a senadora Roseana, que segue em situação pouco confortável nas pesquisas. O presidente disse que estava ali como dever de lealdade a uma mulher que está com ele desde 2002. Verdade verdadeira. Roseana fez campanha para Lula em 2002, pedindo voto na TV e fora dela. Portanto, neste quesito, o presidente merece aplauso, porque gratidão é uma virtude que está acima de questões ideológicas.

Lula e dois milhões de empregos informais

Confesso que não estive muito interessado na campanha de TV dos candidatos a presidente. Além do fato de que é a mesmice, vai longe o tempo em que havia criatividade nas peças publicitárias. Mas ontem, olhei com acuro um comercial de Lula. Fala que o presidente criou 7,5 milhões de empregos, mas faz uma ressalva: 5,5 milhões com carteira assinada. Portanto, há dois milhões de trabalhadores no limbo, sem carteira assinada, sem direito à Previdência Social, sem qualquer garantia social.
O presidente Lula, que nasceu no berço sindical, deveria se envergonhar de exibir esse número despudorado de brasileiros sem carteira assinada, trabalhando na informalidade. Trata-se da confissão de um fiasco, mais do que da exaltação de um sucesso.
Quem diz que criou 2 milhões de empregos sem carteira assinada está faltando com a verdade, porque emprego de verdade tem que tem um contrato em que o trabalhador tenha as salvaguardas legais criadas, aliás, há mais de 60 anos. Sem recolhimento da Previdência, sem FGTS, sem férias, sem décimo terceiro salário, não é emprego, é subemprego, é bico, é qualquer coisa, menos emprego. Mesmo assim, o presidente operário exibe na TV que seu governo criou 7,5 milhões de empregos, 2 milhões deles sem carteira assinada.´
Em vez de sucesso, admitir a criação de 2 milhões de vagas na informalidade é dizer ao mundo que há um desastre em curso, uma bomba que vai explodir mais cedo ou mais tarde.
Considerando que os dois milhões de "empregados" do limbo do presidente Lula ganhem R$ 350,00 (salário mínimo), eles deixam de recolher mensalmente R$ 56 milhões ao FGTS. O mesmo valor deixa de pingar nos cofres do INSS. Em um ano, R$ 1,45 bilhão que o Estado deixa de receber. Orgulhar-se disso é gostar de vender ilusão.
O presidente Lula, como de resto os políticos brasileiros, deveria começar a pensar não apenas nessa expressão mágica que enche-lhes a boca: geração de emprego. Com 2 milhões de almas penas no mercado de trabalho, ocupadas em empregos que o presidente Lula criou, nenhum deles com carteira assinada, o melhor que se pode fazer agora é começar a discutir a qualidade do emprego.

segunda-feira, outubro 09, 2006

O presidente que virou candidato

Ricardo Noblato
Publicado no Blog do Noblat, em 09.10.2006

Menos de 24 horas depois do debate de ontem à noite na TV Bandeirantes, Lula reconheceu que foi surpreendido por um Alckmin agressivo, brigador e que não o deixou respirar sossegado um só instante. Promete se preparar melhor para as próximas ocasiões.
É recomendável que se prepare, sim.
Lula compareceu ao debate como presidente da República - e, como tal, imaginou que seria tratado. Saiu dali como candidato - favorito ainda, mas candidato. Alckmin entrou no debate como o anti-Lula, escalado por seus pares apenas para cumprir tabela e perder a eleição.
Saiu com pinta de presidente - embora possa ser derrotado ao final.
A composição da audiência do debate - de qualquer um - é diferente da composição do eleitorado. Não dá, pois, para dizer que o vencedor de um debate ganhou menos ou mais votos. A não ser que ele nocauteie o adversário.
O desempenho de Alckmin foi melhor do que o de Lula, especialmente nos dois primeiros dos cinco blocos do debate. Alckmin foi para cima o tempo todo e Lula tratou de se defender o quanto pôde, desferindo golpes aqui e acolá.
O maior mérito de Alckmin foi impedir que Lula conseguisse impor sua agenda de discussão - comparar os resultados de quatro anos de governo com os oito do seu antecessor. Para completar, Alckmin impos a dele - a corrupção no governo Lula.
Ficou demonstrado mais uma vez que Lula é bom de palanque - só é bom de televisão quando consegue ler com naturalidade o que outros escrevem. Alckmin falou para quem estava em casa.
Lula, para o próprio Alckmin e para quem estava no estúdio.
A partir de um certo momento do debate, Lula passou a jogar para segurar os votos que tem. Foi quando tentou colar a imagem de Alckmin à imagem do governo anterior que "vendeu o patrimônio nacional para pagar dívidas". E foi também quando martelou a idéia de que seu governo cuidou melhor dos pobres.
Alckmin jogou o tempo todo de olho nos eleitores indecisos e naqueles que ainda admitem mudar seu voto. O alvo preferencial de Alckmin foi o eleitor do Sul, Sudeste e Centro-Oeste - algo como 66% do total de eleitores.
Se Lula tivesse dado ontem um passeio em cima de Alckmin, a eleição teria terminado na prática. Como ficou em desvantagem, a eleição continuará.

Texto disponível em:
http://noblat1.estadao.com.br/noblat/index.html

O Piauí é aqui, o Piauí não é aqui

Mais sobre a revista "Piauí", publicação que chega chamando a atenção do mundo intelectual brasileiro. Este comentário "O Piauí é aqui, o Piauí não é aqui" abaixo é de Nelson Sá, no blog Toda Mídia, da Folha (conferir em http://todamidia.folha.blog.uol.com.br/):

"Saiu, como destaca o Nomínimo, a revista "Piauí", de João Moreira Salles. Nasce do próprio site, herdeiro do No., uma das primeiras revistas on-line do país. Já tem site próprio, ainda em construção (imagem à esq.). Um único texto foi liberado no Nomínimo, sobre Roberto Jefferson.
Capa de Angeli, conto de Rubem Fonseca, texto de Ivan Lessa sobre voltar ao Rio após 30 anos, reportagem sobre as "senzalas eletrônicas" do telemarketing - tais são as atrações. Evitando (mas nem tanto) comparações à "New Yorker", Salles diz que, "como toda a imprensa fugiu desse jornalismo, sobrou um vácuo, que chamo de orfanato; agora vamos descobrir qual é o tamanho do orfanato”. Contando com a Abril como "parceira", o publisher prevê “pelo menos dois anos, dois anos e meio” de fôlego financeiro.
Como noticia o Blue Bus, a revista sai com 21 páginas de publicidade, em 70, e "o lançamento está sendo apoiado por campanha criada pela carioca Brasil.com, com o slogan 'a revista para quem tem um parafuso a mais', utilizando cinema, rádio, mídia impressa, mobiliário urbano, mídia indoor em aeroportos, outdoor e internet".
Sobre o nome, seria uma homenagem ao Estado mais pobre do país."

Sem essa de 'baixa estima'
Por valor, conterrâneos: não vamos reagir a esta última frase do Nelson Sá, dizendo que estão discriminando nossa terra. Sem essa de auto-estima degradada.
Verdade que o Piauí não é o mais pobre, mas está beirando.
Melhor mesmo é a gente comemorar a homenagem vinda de uma publicação de tanta qualidade, festejada pelo mundo intelectual brasileiro.
Assim, viva o Piauí!
E que a gente possa seguir lutando para que um dia nossa terra tenha status mais elevado, com melhores indicadores sociais.

"Piauí" literário chega a público

Amatério abaixo é da Folha:

Uma nova revista chega às bancas nesta semana. Com um nome que nem seus criadores sabem explicar direito, "Piauí" tem espírito híbrido. Será uma mistura de reportagens ao estilo "new journalism" (ou jornalismo literário) com crônicas, perfis e diários --de temas preferencialmente nacionais--; além de textos ficcionais.
A publicação pertence à Videofilmes, empresa dos irmãos Walter e João Moreira Salles, em associação com a editora Abril, que será responsável por sua impressão e distribuição, mas não vai interferir no conteúdo editorial. A tiragem inicial será de 70 mil exemplares.
O primeiro número traz colaborações de nomes consagrados da imprensa nacional, como Ivan Lessa, que descreve seu retorno ao Brasil após mais de 28 anos, e Danuza Leão, que faz um perfil do estilista Guilherme Guimarães, além do ilustrador Angeli, que desenha a imagem da capa -um intrigante pingüim de geladeira com boininha de Che Guevara.
"A idéia é misturar esses nomes com os de gente jovem. A seção "Esquina" vai privilegiar gente com menos de 30 anos", diz João Moreira Salles. Os textos desse segmento trazem pequenas histórias curiosas, como a do ex-presidiário do Carandiru ao receber a notícia da morte do coronel Ubiratan ou a do crescimento do número de adeptos do badminton no Piauí. Nenhum desses textos é assinado.
"Achamos que a revista tem de ter uma voz própria. Matéria assinada virou um fetiche, e queremos um pouco menos de ego", diz o diretor da publicação, o jornalista Mario Sérgio Conti.
Salles acrescenta que a revista não tem exatamente uma linha editorial, e que quer apenas contar boas histórias com humor. Aliás, a quantidade de "nãos" do projeto é grande. Não há colunas, não há editoriais, não há restrições temáticas nem preocupação com as últimas notícias.
"Piauí" também não terá um posicionamento político específico. "O ideal é que os textos sejam interessantes, bem escritos e divertidos. Aí cabem desde o stalinista até o sujeito da propriedade. Ninguém será excluído por sua posição ideológica", diz Salles.

Ver texto em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u64970.shtml

sexta-feira, outubro 06, 2006

Prefiro acreditar em Papai Noel

Tenho recebido agora mais amiúde artigos de gente que defende o presidente Lula. A maioria fala de um confronto idéológico entre esquerda e direita. Chega a ser engraçado como essa gente enxerga esses fantasmas maniqueístas. Alguns me parecem que estariam melhor se houvesse uma máquina do tempo e fossem todos enviados para o Chile em 1973, para cobrir o bombardeio do Palácio de la Moneda.
Os artigos encaminhados a mim também atacam a imprensa, como editoriais de O Estado de S. Paulo e da Folha. Outro desperdício, porque os editoriais e artigos destes jornais "de direita" são melhor escritos que os artigos do pessoal "de esquerda", em geral carregados de vícios, de equívocos e de idéias manipuladas sobre o que é certo e o que é errado.
No rol das tolices ditas pelos que alimentam essa patética teoria conspiratória de direita contra o presidente Lula, existem aqueles que falam que a rede Globo "comprou todo mundo", numa clara demonstração de desconhecimento: a Globo não compra, a Globo vende. E vende para qualquer um que esteja apto e disposto a comprar. Ou comprá-la.
Portanto, esse teoria conspiratória contra Lula é algo ridículo. Pessoalmente, prefiro acreditar em outra lenda criada pela "direita": o Papai Noel. Pelo menos ele não é raivoso, não fica dizendo besteiras inacreditáveis a adultos racionais.
E só para que não me venham dizer que a "direita" malvada, perversa, que nada ganhou no governo de Lula, faz tudo para vê-lo fora do poder, segue abaixo um trecho de um artigo de Clóvis Rossi, publicado quarta-feira passada na Folha de S. Paulo:
"Disse Lula: "A única frustração que eu tenho é que os ricos não estejam votando em mim. Porque eles ganharam dinheiro como ninguém em meu governo". Uma frase, duas revelações, ainda que uma desnecessária. Primeira revelação (conhecida): os ricos é que realmente ganharam dinheiro em seu governo. Logo, a imagem de "pai dos pobres" é pura demagogia.
Os números dão razão a Lula: R$ 110 bilhões para remunerar os detentores dos títulos da dívida pública (todos ricos, alguns podres de ricos) e apenas R$ 7 bilhões para o Bolsa Família, destinados aos pobres entre os pobres. A segunda revelação é o incontido desejo, típico em novo rico, de ser querido e amado pelos "velhos ricos". Não há mal nisso. É humano. O mal está em apresentarem-se, ambos, como se fossem de plástico".

Perdido, mas nem tanto

No dia em que todo mundo estava a fim de celebrar os vitoriosos, domingo passado, eu fui ao encontro do ex-prefeito de Teresina, Firmino Filho. A convite de amigos, estive em sua companhia e lhe disse que não enxergava uma derrota e um fim nos resultados magros que ele colheu nas urnas fechadas horas antes.
Muito ao contrário dos que olhavam os números e sentenciavam, como que juízes ungidos por Deus, o fim da carreira política de um sujeito com menos de 45 anos de idade, duas vezes prefeito de Teresina e que pode ser favorecido até pela idade mais avançada dos que também levaram uma surra nas urnas.
Para quem acha que Firmino chegou ao fim da estrada, é bom lembrar que em 1998, quando tucanos e petistas marcharam juntos na eleição estadual, a chapa majoritária dos dois partidos chegou a 15% dos votos. Firmino conseguiu um pouco mais de 12% num ambiente muito menos favorável, enfrentando um governador com elevado índice de aprovação e tendo um Mão Santa tão forte quanto o de 1998. Ora, assim sendo, perdeu sim, mas não o suficiente para que se decrete o fim de sua carreira.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Alckmin, outra vez trapalhão

Quase por milagre (e obra das traquinagens petistas), Geraldo Alckmin está no segundo turno. Mas começa essa nova etapa como na primeira: fazendo trapalhadas que lançam luzes negras sobre sua campanha.
Se no primeiro turno foram coisas tais como a compra de produto pirata em feira livre, agora Alckmin começa a campanha para o segundo turno comprando um apoio pirata, ou um falso apoio, no caso o do casal Garotinho. Foi um tiro no pé, nada tão grave quanto o dossiê comprado pelos petistas para atacar Serra, mas um tipo no pé. O apoio de Anthony e Rosinha não soma praticamente nada em voto. E gera uma enormidade de desconfianças.
Os peemedebistas autênticos - tipo Jáder Vasconcelos -, que apoiam Alckmin, ficam de orelhas em pé. E perdem um pouco da vontade de arregaçar as mangas.
Para essa gente, o discurso ético ainda é importante, coisa que na banda petista anda esquecida, muito esquecida.

Olhos no segundo turno

Depois de uns dias sem postar - e agora já escrevendo da Espanha -, torno ao tema eleitoral.
Os resultados do primeiro turno estão postos e analisados. Eu mesmo fiz um artigo (que saiu no Diário do Povo) sobre a tragédia do PFL. Teve gente que não gostou. Mas, fazer o que?
Agora vamos lançar os olhos para o segundo turno.

domingo, outubro 01, 2006

A renovação no Legislativo

A cada eleição, fala-se na renovação do legislativo. Em geral, é uma mera renovação de nomes, sem qualquer impacto sobre as práticas e muito menos sobre os beneficiários da atuação parlamentar: ficam no poder os mesmos grupos, as mesmas famílias. Essa “mudança de faz de conta” atinge tanto à Câmara Federal quanto ás Assembléias Legislativas.
Tome-se alguns casos no Piauí: Sebastião Leal foi substituído por Leal Júnior, Antonio José Moraes Souza por Zé Filho, Bona Medeiros por Gustavo Medeiros, José Nery por Nerinho, e assim por diante.
Este ano, a Assembléia Legislativa deve “renovar” menos de 25% dos deputados. Quer dizer, um número muito baixo – que se torna ainda menor diante do propalado desgaste do político; e se revela insignificante quando olhamos que apenas três dos prováveis eleitos (10% da Casa) são realmente novos.
Senão vejamos:
Entre os novos, estará Lílian Martins, que de fato substituirá o marido, Wilson Martins, na cadeira de deputado. Ana Paula é outra nova que deve apenas manter na família a cadeira que era de Chico Filho. Sem vaga garantida, Ismar Marques pode se converter num “novo” que apenas tem de volta uma cadeira que já foi sua por algumas legislaturas.
Os demais nomes que aparecem como novos são Robert Rios, Assis Carvalho e Nonato Pereira. Estes chegam pela primeira vez ao posto, e sem receber herança de “A” ou “B”.

A renovação na Câmara
Dos atuais dez deputados federais do Piauí, voltam seis. Ou sete.
Além de pequena, essa renovação também é enganosa. Basta observar que um dos possíveis eleitos é o senador Alberto Silva, com seus quase 60 anos de política e que apenas mudaria do Senado para a Câmara.
A aliança PMDB/PP deve eleger Marcelo Castro e Ciro Filho – Alberto entraria em terceiro pela soma da legenda.
O PSDB tem assegurada uma vaga, que tende a ser do já deputado Átila Lira. Mas apresenta grandes chances de fazer um segundo deputado, no caso o estreante R. Sá.
A coalizão governista (PT/PTB/PCdoB/PSB) deve eleger Paes Landim, Antonio José Medeiros e Osmar Júnior. Há quem avalie que esse time pode ficar com uma quarta vaga (para Nazareno Fonteles), deixando o PSDB só com uma.
O PFL elege Júlio César e Mussa Demes, já com cadeiras na Câmara.
Traduzindo: os novos podem ser Alberto, Osmar, Antonio José e R. Sá. Ou apenas os três primeiros.
Além disso, dois dos novos eleitos estão apenas substituindo nomes eleitos pela máquina de seus partidos em 2002: Antonio José se coloca no lugar de Trindade e Osmar no de Afonso Gil.