terça-feira, outubro 24, 2006

Lula e dois milhões de empregos informais

Confesso que não estive muito interessado na campanha de TV dos candidatos a presidente. Além do fato de que é a mesmice, vai longe o tempo em que havia criatividade nas peças publicitárias. Mas ontem, olhei com acuro um comercial de Lula. Fala que o presidente criou 7,5 milhões de empregos, mas faz uma ressalva: 5,5 milhões com carteira assinada. Portanto, há dois milhões de trabalhadores no limbo, sem carteira assinada, sem direito à Previdência Social, sem qualquer garantia social.
O presidente Lula, que nasceu no berço sindical, deveria se envergonhar de exibir esse número despudorado de brasileiros sem carteira assinada, trabalhando na informalidade. Trata-se da confissão de um fiasco, mais do que da exaltação de um sucesso.
Quem diz que criou 2 milhões de empregos sem carteira assinada está faltando com a verdade, porque emprego de verdade tem que tem um contrato em que o trabalhador tenha as salvaguardas legais criadas, aliás, há mais de 60 anos. Sem recolhimento da Previdência, sem FGTS, sem férias, sem décimo terceiro salário, não é emprego, é subemprego, é bico, é qualquer coisa, menos emprego. Mesmo assim, o presidente operário exibe na TV que seu governo criou 7,5 milhões de empregos, 2 milhões deles sem carteira assinada.´
Em vez de sucesso, admitir a criação de 2 milhões de vagas na informalidade é dizer ao mundo que há um desastre em curso, uma bomba que vai explodir mais cedo ou mais tarde.
Considerando que os dois milhões de "empregados" do limbo do presidente Lula ganhem R$ 350,00 (salário mínimo), eles deixam de recolher mensalmente R$ 56 milhões ao FGTS. O mesmo valor deixa de pingar nos cofres do INSS. Em um ano, R$ 1,45 bilhão que o Estado deixa de receber. Orgulhar-se disso é gostar de vender ilusão.
O presidente Lula, como de resto os políticos brasileiros, deveria começar a pensar não apenas nessa expressão mágica que enche-lhes a boca: geração de emprego. Com 2 milhões de almas penas no mercado de trabalho, ocupadas em empregos que o presidente Lula criou, nenhum deles com carteira assinada, o melhor que se pode fazer agora é começar a discutir a qualidade do emprego.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Cláudio,
dá uma olhada em um dos vts da campanha do Lula que trata da inclusão digital: são dois adolescentes conversando através de um desses programas de bate-papo, ela declara o voto, ele desconfia e pergunta o motivo. Ela responde que, se não fosse o Lula, não estariam ali... e despede-se dizendo que vai estudar (na tela, no lugar da janela do bate-papo, um texto didático).
Achei a idéia fantástica. Fácil demais. Sem palavras complicadas, direto mesmo.
Beijo pra você. Lis.

25/10/06 13:01  

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