terça-feira, agosto 04, 2009

Os idiotas e a política

Em política, o comportamento tradicional é repetir-se, apegar-se a um tema e, chegado a certo ponto, tal como fazia o personagem de Alan Alda na maravilhosa sétima temporada da série A Ala Oeste da Casa Branca (www.westwing.co.uk), acabar com teu inimigo (neste caso concreto, os meios de comunicação) por esgotamento dialético, cansá-los com quilômetros de resposta até que se fartem de perguntar. Este último, por suposto, só ocorre na ficção.
Assim, falar de política só tem interesses se o sujeito se empenha em citar os clássicos, embora estes provavelmente seriam refratários à idéia de se meterem em cenários tão negativos: não há dúvida de que em pleno século XXI, Sócrates seria condenado de novo pela democracia mais democrática de todos os tempos; nem que Aristóteles ou Rousseau pediriam para ser internados em um hospício para evitar o pior; ou que Quinto (irmão de Cícero) encheria os bolsos com sua célebre carta, Breviario de campanha eleitoral, aquela em que detalhava como se pode engabelar o povo para ganhar as eleições.

O trecho acima é a abertura do artigo Idiotas, de Tony Garcia, publicado neste 04 de agosto no jornal espanhol El Pais. Para ver o texto completo, acesse:
http://www.elpais.com/articulo/revista/verano/Idiotes/elpepirdv/20090804elpepirdv_5/Tes

quinta-feira, julho 30, 2009

A política subterrânea

Fenelon Rocha
Jornalista e Cientista Político


A crise do Senado é o grande pôquer da política brasileira deste momento. Lá não se joga apenas os destinos da carreira de José Sarney. Infelizmente, tampouco se busca pra valer o resgate da seriedade, com o retórico restabelecimento da moralidade no comando da Casa. O grande jogo na mesa de discussão, nas refregas de bastidores e principalmente nas páginas de jornais é o comando do país.

A carreira de Sarney, é óbvio até pela idade, espera apenas uma pá de cal. E, pelas cores da crise, pode carregar junto algumas estrelas do mais longevo clã da política nacional. O ataque ao Senado revela mais uma vez o tamanho do desprestígio da classe política e o papel da Casa: alguns já questionam a necessidade da Câmara Alta, há algum tempo transformada no grande centro das negociatas políticas.

E o “resgate da moralidade” é tratado aqui como apenas retórico porque poucos estão realmente preocupados com isso. Inclusive porque se os atos secretos forem olhados a fundo, vão alcançar muitos dos ocupantes do Senado. Há 18 anos esses atos vêm sendo praticados, beneficiando gente de diferentes estados e partidos.

Nesse jogo onde o que parece nem sempre (ou raramente) é, o primeiro resultado que vai se evidenciando é o distanciamento entre PMDB e PSDB. Há apenas 4 meses, muitos apostavam numa aliança entre o PMDB e o tucanato, seja através da candidatura de José Serra ou de Aécio neves. As refregas desses últimos meses vão transformando uma questão pessoal – os ataques a Sarney – em uma guerra partidária.

Dentro do PMDB, é cada vez maior o número de lideranças que está tomando a seqüência de taques como uma questão partidária. É verdade que o PMDB nunca vai por inteiro para lugar nenhum, e agora não seria diferente. Mas a maior parte do partido está ficando incomodada com a reincidência de golpes. E promete revidar.

Os peemedebistas que perfilam ao lado dos tucanos no ataque ao presidente do Senado são simbolicamente importantes, mas não são tantos nem controlam muita coisa dentro da sigla. E isso pode ter impacto significativo sobre as articulações para 2010.

O PT de Dilma pode ficar muito agradecido a essa crise em torno de Sarney.

A crise do Senado é séria. Muito séria. E mostra o tamanho do descalabro ético que cerca a política brasileira. A própria chegada de Sarney à presidência da Casa, ladeado com os Collor de Melo e Renan Calheiros da vida, já era um forte indicador das práticas corriqueiras e de onde o Senado estava metido.

Outro sintoma importante: os questionamentos sobre os atos do Senado – sejam eles da gestão Sarney ou não – são sempre tratados como pessoais (“coisas do Agaciel”, “coisas do Sarney”), quando de fato revelam procedimentos institucionalizados. É aquela história do Poder personalizado, do Poder Público privatizado com fins clientelistas. As práticas não são seriamente questionadas, mas tão somente a figura do senador em fim de carreira. Como se tirar Sarney e colocar outro qualquer seja a solução.

Para mudar, é preciso mudar de nome e de postura.

O pior da crise, mesmo!, não é a crise em si. De fato, o doloroso é saber que as velhas práticas seguem em voga. E que a luta pela moralidade se restringe a mudar um nome por outro. Mais ou menos como entregar os anéis para permanecer com os dedos.

O pior da crise é que ela pode dar em nada. Absolutamente nada. A não ser numa mexida no jogo de forças, em que aliados de ontem podem deixar de ser aliados de amanhã.
Mas, no final das contas do subterrâneo da política, o que importa é isso: quem vai ficar com a faca para se lambuzar com o queijo e definir o tamanho das fatias servidas.

Artigo publicado no Diário do Povo, em 30 de Julho de 2009, página 3

quinta-feira, abril 10, 2008

A covardia do DEM está na sua gênese

Zózimo Tavares, impecável, assim se expressou sobre o fim da candidatura de Mainha antes mesmo do começo:
"Não tem jeito: o mal da falta de coragem do DEM é hereditário, está no DNA do partido. Assim sendo, não causa surpresa que o Democratas jogue a toalha e desista da campanha pela Prefeitura de Teresina. Mas desta vez, os pefelistas, hoje batizados de democratas, se superaram: não tiveram coragem sequer de apresentar candidato a prefeito da capital".

quarta-feira, abril 09, 2008

O Sufocador ataca outra vez

Na novela Duas Caras, o mais insondável mistério criado para sustentar a audiência é um tal Sufocador. O estranho ser ataca mulheres nas imediações da favela da Portelinha, que fica no Rio de Janeiro, mas não registrou nenhum caso de dengue. A Portelinha é um paraíso terrestre.
Pois o Sufocador acaba de ser identificado. Atende pelo nome de Heráclito de Sousa Fortes. Nunca teve a sorte de atacar a toda boa Alzira (Flávia Alessandra), nem mesmo uma das meninas do Texas Bar.
A única vítima do Sufocador foi o coitado do ex-quase candidato do quase falecido DEM à Prefeitura de Teresina, José Maia Filho, o Mainha.
O pobre rapaz ainda hoje deve estar sem ar.

terça-feira, abril 08, 2008

Ressurgimento de índios derruba a eficiência da limpeza étnica do Piauí no século 19

O Piauí exterminou seus índios ainda no século 19. Foi o único lugar do mundo onde os conceitos nazista de solução final e sérvio de limpeza étnica foram levados a efeito com absoluto êxito, pelo menos até onde alcança o parco conhecimento deste que assina o post.
Mas ao que parece deu-se um jeito em acabar com a eficiência dos exterminadores de índios do Piauí.
Uma comunidade de ascendentes indígenas foi localizada no Extremo Sul do Piauí. Em vez de se socorrer na Funai, os neo-silvícolas piauienses pediram seu reconhecimento ao Instituto do Patrimônio Histório e Artístico Nacional. Ressurgem os índios no Piauí não como um grupo social alvo de limpeza étnica dos bandeirantes ruinosos, mas como patrimônio histórico.
Em 19 de abril, dia do índio, a TV Assembléia (Canal 16) apresentará um documentário com esta grande novidade antropológica. O filme vai ao ar às 19 horas. Um furo de reportagem. Menos para o povo de Piripiri, que há tempos convive com uns índios que chegaram por lá e estão até querendo criar uma taba.

Lamento

Zaza Sampaio acha que está errado chamar CPIs de Comissão Parlamentar de Inquérito. Acha mais conveniente chamá-las de Comissões Para (Lamentar) Inquéritos.
Os inquéritos que as CPIs fazem são ruins. Viciados. Políticos. Inúteis. Lamentáveis, enfim.

terça-feira, julho 24, 2007

Afastamento de servidores é bom para o Judiciário

O Jornal Meio Norte publicou editorial, sob o título Marco fundamental, considerando que será positivo para o Judiciário o afastamento de servidores não concursados.

"Ontem, o Tribunal de Justiça do Piauí afastou 53 servidores de seus quadros. Todos foram admitidos sem concurso público, contrariando o que reza a Constituição Federal. O TJPI apenas cumpriu o que lhe foi determinado pelo Conselho Nacional de Justiça, ao atender uma denúncia do Ministério Público do Trabalho. O ato, com efeito, é tão-somente a retomada da norma constitucional, não havendo nele qualquer atitude revanchista ou exagero, como querem fazer supor alguns.

O afastamento de servidores contratados sem concurso é um imperativo legal e, se feito pelo Judiciário, tanto melhor, porque a este poder cabe julgar eventuais desvios na admissão de funcionários públicos.

Como são muitos os descaminhos na administração pública estadual ao longo de anos na contratação de servidores, ao cortar a própria carne o Judiciário purga-se dos pecados e reafirma sua legitimidade para purgar os pecados alheios. O episódio do afastamento deve causar dissabores a algumas dezenas de pessoas, gente conhecida, com sobrenomes que evidenciam ligações familiares com membros da magistratura. Porém, o padecimento pontual de umas poucas famílias não pode esconder o fato fundamental de que as instituições não podem servir a interesses outros que não sejam os da coletividade.

O afastamento dos servidores sem concurso – e não demissão, posto que a admissão inconstitucional não gera efeitos – deve ser encarado não como castigo, mas como uma chance de ser transformar o concurso público em rotina. O concurso é um instrumento de isonomia, muito embora a má qualidade da educação pública no Brasil dê aos mais abastados chances maiores do que têm os menos afortunados financeiramente.

O que houve no Piauí – e de resto no Brasil – foi a tentativa de risco zero de concorrência para quem tinha um sobrenome de político, magistrado ou promotor de Justiça. Sem concurso, asseguravam-se os melhores empregos para os que tinham a sorte de ser parentes ou amigo de quem estava no comando. Ora, essa distorção começou a ser corrigida com a Constituição de 1988 e também com decisões como a do CNJ, ao determinar que o TJPI se abstenha de contratar sem concurso e afaste quem assim foi admitido irregularmente após a promulgação da Carta Magna.

O TJPI, cortando a carne, tem não apenas a chance de fazer-se uma instituição mais respeitada. Agora passa a ser o único dos poderes do Estado onde, efetivamente, só haverá servidores concursados, salvo aqueles de livre nomeação e demissão pelo seu dirigente. Assim sendo, o afastamento pode ser o marco de uma nova era administrativa, pois dá ao Judiciário do Piauí instrumentos para, quando solicitado, determinar que Legislativo e Executivo cumpram eles também a Constituição".

Inimigo número 1

Fenelon Rocha

A TV espanhola deu destaque, na segunda-feira, a uma notícia que ganhava tons extraordinários. Foi manchete principal do Telediário, uma espécie de Jornal Nacional ibérico. Além da chamada de abertura, mereceu uma longa matéria no meio do telejornal, comple-mentada por uma chamada ao vivo desde Portugal. E para mostrar o caráter especial da informação que se dava, mereceu uma segunda entrada ao vivo, antes do encerramento do noticioso.
O destaque do fato se justificava: acabava de ser preso o inimigo público “número 1” da Espanha, segundo a etiqueta colada pela imprensa com o aval da própria polícia. A prisão ocorreu em território português, em uma operação que mobilizou as polícias dos dois países.
O tal do inimigo público número 1 dos espanhóis é um assaltante de banco que realizou uns 33 assaltos. É suspeito de duas mortes. Seu modo de agir era sempre o mesmo: com peruca, barba postiça e terno folgado (possivelmente para camuflar o colete à prova de balas), entrava nos bancos silenciosamente, apontava a pistola para o gerente ou caixa e levava o que tinha à mão. Não complicava: levava só o que estava à mão. Às vezes 2, ou 3 ou, quem sabe, uns 10 mil euros por assalto. Chegava ao banco como um cliente qualquer, muitas vezes com uma pasta tipo executiva. Entrava calado e saía mudo, sempre sozinho, o que lhe rendeu o apelido de Assaltante Solitário.
Como era possível agir com tanta facilidade? Simples: as agências bancárias na Europa não têm guardas. Sequer vigias. Também os caixas não guardam fortunas nas gavetas, tampouco os cofres têm controle horário – daí a facilidade e a pouca monta.

Nesse cenário de facilidades, o tal Assaltante Solitário virou lenda, principalmente por ser rápido e discreto; e também pelo êxito nas reincidências pelos quatro cantos da Espanha e em algumas cidades de Portugal. Também por isso se transformou em inimigo público número 1, justificando a mobilização das polícias de dois países.

O inusitado do destaque da prisão pode produzir duas reações em um brasileiro. Primeiro, o riso: um assaltante pé-de-chinelo ocupando tanto destaque no Jornal Nacional? Rá, rá, rá! Isso lá é notícia! Rá, rá, rá!

Depois do riso, a lástima: puxa, um assaltante desse é o inimigo público número 1? No Brasil não passaria mesmo de um pé-de-chinelo! Assalto a banco nem é notícia a não ser nos jornais locais. Para merecer destaque nacional, tem que ser coisa como o assalto do Banco Central de Fortaleza ou algo que chegue perto.

Bandido para cair na boca do William Bonner ou da Fátima Bernardes tem que ser um Fernandinho Beira-Mar; ou o chefe do tráfico no Morro do Alemão. Ou senador flagrado recebendo propina.Mais motivos de lástima: apesar do “exigente” perfil brasileiro de noticiabilidade, o que não falta no Jornal Nacional é notícia de crimes, assaltos, mortes, tiroteios e coisas do tipo. Pior: nada de Assaltante Solitário; são gangues robustas e organizadas, sem a discrição do pé-de-chinelo espanhol, tampouco sem a “pobreza” de uma pistola ou metralheta que se esconde debaixo do paletó. Não! Bandido brasileiro é coisa de cinema: bandos enormes, equipamento de guerra e ramificações em todas as partes – incluindo altos postos nas mais importantes instituições públicas, como bem revelam as seguidas operações da Polícia Federal.

O que é ou deixa de ser notícia depende do contexto.

E tendo em isso em conta, pode-se cogitar uma terceira reação de um brasileiro diante da notícia extraordinária da TV espanhola: a esperança. Sim! Um dia a gente chega lá!Quem sabe um dia o Brasil volta a ter outros critérios de noticiabilidade, onde o assalto ao banco do bairro ou à farmácia da esquina seja algo tão extraordinário que mereça ocupar um bom tempo dos telejornais. Mais extraordinário ainda será saber que a polícia foi capaz de prender esses “meliantes” que teimavam em corromper o sagrado sossego de cidadãos que, por fim, recebem de volta tudo o que pagam em impostos.

(*) Fenelon Rocha é jornalista e professor da UFPI.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Contas do Estado

Há algo de muito esquisito nas contas estaduais. Como verificar o acesso às contas é algo mais díficil que o Caminho de Santiago, fica mesmo o mistério e a esquisitice. Ou, pior ainda, a especulação com jeito de verdade.
Há quem fale em insolvência, mas isso é exagero puro.
O que existe de fato é um elevado grau de dificuldade para tocar o custeio da máquina administrativa. E essa dificuldade não é novidade. Desde antes da eleição o governo já andava com dificuldades para honrar compromissos com seus fornecedores habitais de itens como combustíveis e suporte de informática, além de telecomunicações.
Como as dificuldades não representam uma novidade, fica a dúvida sobre a extensão delas. Ademais, elevação de custeio de pessoal - face os planos de cargos e salários de 29 categorias funcionais - é algo não mensurável até aqui. Ninguém sabe dizer qual a repercussão financeira desses planos. Mas não é coisa pouca, algo capaz de complicar a vida do secretário de Fazenda, a quem cabe não o pagamento da conta, mas, sobretudo, dizer quando não poderá honrá-la.

Melhor é ficar na oposição

Robert Rios acaba de sinalizar que o melhor lugar para fazer política no Piauí é na oposição. Ele tem razão. Com tanta gente aderindo ao governo, os espaços se reduzem a ponto de não comportar a todos. O resultado é que quem fica com o governo pouco pode fazer e nada pode prometer. Na oposição, pode-se oferecer algo ilimitado, que é a esperança.
O governo grande demais e com toda essa heterodoxia ideológica corre o risco de tornar-se antipatizado pela população e, pior ainda, ineficiente para atender a enorme quantidade de demandas - não necessariamente as demandas corretas.
Como é difícil atender a todos, o governo pode se perder já no começo do caminho de quatro anos que está percorrendo. Como há gente demais a atender, haverá sempre gente não satisfeita.
O número de insatisfeitos, aliás, já é tão grande que o murmúrio dessa gente começa a virar grito ensurdecedor. Robert Rios, cuja língüa não consegue ficar quieta, é apenas mostra da barulheira. Mas tem gente quieta que faz do silêncio um grito muito maior do que o tagarela deputado estadual comunista. Um exemplo: João Vicente Claudino. O senador eleito pouco fala, mas o que ele não fala se escuta bastante.
Se há uma insatisfação generalizada, tanto pior para o PT. Para Wellington Dias as coisas seguem bem. Ele não pode mais ser reeleito e daqui a quatro anos pode tentar ser senador. Seu partido, entretanto, vai para a disputa sem o refresco da caneta companheira e, pior, com arestas irremovíveis contra os aliados de agora.