sexta-feira, agosto 04, 2006

O PT e a cultura do denuncismo

O presidente Lula, bombardeado com munição de grande calibre na esteira de escândalos como mensalão e sanguessugas, reclama que há uma cultura do denuncismo no Brasil. Diz mais: aqui se criou uma mentalidade segundo a qual o homem público é desonesto a priori.
Lula tem razão no diagnóstico. Mas não em porque reclamar.
Foi exatamente o PT o principal construtor dessa mentalidade, aliado por uma imprensa que muitas vezes se vale de qualquer denúncia para chegar a objetivos distantes do desejado aperfeiçoamento democrático e da boa gestão dos recursos públicos.
Em mais de 20 anos na oposição, o PT se especializou em denunciar. Denunciou muita gente com base em documentos fartos e acusaões fundadas. Mas também lançou na lama a honra e a imagem de muitas pessoas que nada deviam no cartório.
Agora Lula e petistas - incluindo alguns do Piáuí - reclamam das pancadas que levam. E fazem da reclamação (escudada numa pouco crível idéia de perseguição política e preconceito) a principal defesa em relação a escândalos robustos e muito palpáveis, tal como o que envolve a licitação de ambulâncias.
O envolvimento de um integrante do diretório nacional do PT, o ex-candidato ao governo do Ceará, José Cirilo, já é evidente demais para que a defesa seja unicamente a desculpa de perseguição política. Em outros tempos, um episódio como esse seria suficiente para o PT falar em impeachment e promover uma ampla mobilização popular. Agora, no governo, tenta colocar panos mornos em tudo.
Essa postura não combina com o discurso histórico do PT. Tampouco com o desejo de aperfeiçoamento da administração pública e da democracia brasileira.
De fato, o PT deve muitas explicações ao respeitável público. As desculpas não cabem mais.