terça-feira, julho 25, 2006

Os pés de barro de Lula

Lula é indiscutivelmente um homem de enorme carisma e encanto. Com tiradas simples, encanta a todo tipo de auditório. É maior que o PT. E maior também que seu governo, recheado de projetos assistencialistas e paliativos que apenas douram a pílula. É um governo muito aquém do esperado. Ainda assim, Lula mantém amplas chances de permanecer no poder. Por que? Porque tem ao seu lado o carisma e uma aliança ideologica e eticamente multicor.
Apesar da liderança, a posição de Lula não pode ser tomada inteiramente como confortável. Primeiro, as pesquisas deixam entrever a perspectiva de segundo turno. Até os petistas, que riam à toa depois da indicação de Alckmin como candidato do PSDB, estão colocando as barbas de molho. O sonho de um "capote" eleitoral foi esquecido.
Segundo, Lula está bem demais em um eleitorado bastante vulnerável: o setor menos esclarecido, com menor nível educacional. O Nordeste é bem um retrato dessa realidade: Lula alcança índices superiores a 60% das intenções de votos em praticamente toda a região. Em cidades do sertão mais pobre, o festival lulista passa dos 70% sem muitas dificuldades.
Esse apoio nas classes C, D e E pode ser explicado pelos programas assistencialistas - como Fome Zero - e pelo encanto que causa a imagem do homem simples que "chegou lá". Além do agradecimento pela ajuda mensal através de programas do tipo Fome Zero, há uma clara identificação de larga capa dessas classes com Lula, um sujeito que superou muitas adversidades até chegar onde chegou.
Mesmo assim, vale a pena tomar cuidado.
Esse segmento que hoje é o suporte das intenções de votos do petista é o mais vulnerável, com opiniões nem sempre consistentes. Pode sofrer forte influência do período da propaganda eleitoral no rádio e TV, especialmente do festival de acusações que vai tomar conta do horário gratuito, no qual Lula tende a ser de longe o principal alvo. Claro, esse segmento também é fortemente influenciado pelas lideranças locais. E essas lideranças estão sempre perto do poder, manejando a máquina clientelista com a força motriz da verba oficial. Nesse quesito, Lula leva vantagem.
Ainda que haja trunfos de parte a parte, é razoável desconfiar de uma liderança (a de Lula) que está baseada especialmente nas classes C, D e E. Essa base pode ser os pés de barro do gigante.
Lula parte como indiscutível favoritismo. Mas a própria ida para o segundo turno já tem provocado um baque para bom número de gente que considerava a disputa como favas contadas.