sábado, agosto 19, 2006

O não-efeito da propaganda

A nova pesquisa do Ibope, divulgada ontem, revela o de sempre: Lula vai muito bem, obrigado. E Alckmin (quer dizer, Geraldo) vai mal das pernas. O petista tem 47% das intenções, contra os 21% de Alckmin, configurando vitória no primeiro turno.
Alguns jornais analisaram que esse resultado mostraria que o horário eleitoral gratuito não alterou o quadro da disputa. Nem poderia: a pesquisa foi realizada de 15 a 17, portanto nas primeiras emissões da propaganda. Não houve tempo para ter efeito.
Mas, a bem da verdade, a experiência das quatro primeiras campanhas presidenciais do Brasil redemocratizado mostra que o horário eleitoral não muda o cenário de antes (histórico bem distinto das disputas estaduais). Na corrida pelo Planalto, todos os que lideravam antes de começar a propaganda chegaram vitoriosos ao final da disputa. Foi assim com Collor, duas vezes com FHC e depois com o próprio Lula.
Quem mais demorou para chegar ao topo das pesquisas foi Fernando Henrique, em 1994, que superou Lula no mês de julho, um mês antes do horário eleitoral. Collor, em 1989, era líderes desde os primeiros meses do ano e chegou vitorioso em dezembro. Em 1998, FHC nunca esteve ameaçado por Lula, assim como este nunca chegou seriamente a ser ameaçado pelos adversários de 2002, sequer quando Ciro cresceu em agosto e logo foi bombardeado pela mídia.
Isto significa dizer que a eleição presidencial é decidida por um forte componente da imagem, que por sua vez atende a um conjunto de fatores, em especial a soma de atores que apóiam o candidato. Desses atores, um dos mais representativos é a mídia, que por sua vez atende às vozes de outros setores de muita influência, como o grande empresariado. A mídia ajuda a construir um cenário de representação para a política, projetando ou criando problemas para os candidatos.
Não quero dizer que a mídia faz e desfaz. A mídia também é feita, construpida pelo jogo de interesses que determina um certo agendamento e enquadramento da política e dos políticos. E assim é que “elege” os seus protegidos.
FHC calou a mídia para manter sua perspectiva de reeleição. Lula não conseguiu calar, mas sempre teve boa fatia da esfera midiática, em especial a Rede Globo, que nunca deixou de falar dos mensalões da vida, mas teve especial empenho em mostrar um “novo Brasil” e um “presidente diferente” bem ao feitio da estratégia palaciana. Assim, Lula chegou à campanha com uma inequívoca identidade com o brasileiro mais simples que se vê representado naquele sujeito que, apesar da poupa formação (como Lula gosta de destacar) chegou à presidência. E tem a gratidão dos que se beneficiam dos programas assistenciais do governo.
Esse cenário é a base da popularidade de Lula. E o suporte de sua estratégia de reeleição.

Mais sobre a pesquisa Ibope:
http://www.estadao.com.br/ultimas/nacional/eleicoes2006/noticias/2006/ago/18/343.htm

1 Comments:

Blogger cbthe said...

Seu artigo está acadêmico e preciso. O que é melhor: não está chato.

20/8/06 07:48  

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