terça-feira, maio 23, 2006

O senador Alberto Silva e a importância do silêncio como meio de comunicação

Os jovens jornalistas do Piauí - e os velhos ou mais ou menos velhos, como este blogueiro que vos escreve - deveriam conversar com o senador Alberto Silva. Longamente. Não sobre as idéias mirabolantes do senador, que ficariam melhor se pensadas por um romancista do realismo fantástico latino-americano. Nada de idéias do senador. Melhor será pedir que discorra sobre os tempos em que era proibido por um decreto nunca escrito de falar da única emissora de TV do Piauí, a TV Clube, no final dos anos 70 e início dos anos 80.
Alberto Silva recorria à Justiça para ter direito de ir à televisão. Uma entrevista sua tinha a força de um acontecimento fenomenal. Repercutia por semanas. Suas palavras ecoavam como uma música maravilhosa para uma audiência que se via obrigada a ouvir o som monocórdio das declarações oficiais e oficiosas.
Alberto era silenciado também nas rádios e nos jornais da cidade. Falar sobre ele era um pecado que não se permitia à mídia manietada pelo poder estabelecido, que ele sabidamente chamou de oligarquia, como se dela nunca tivesse feito parte.
Vitimizado, sem voz, Alberto Silva se transformou no esteio de todos aqueles que lutavam contra aquele estado de coisas. Era uma espécie de Davi sem voz enfrentando o Golias dono da Babel.
O que ninguém no governo que calava Alberto Silva entendia é que comunicação não é somente aquilo que pode ser verbalizado ou assentado em papel. O silêncio imposto acaba por se transformar em uma ferramenta de comunicação como enorme poder. Costumo dizer que informação negada é como água que se represa sem o devido cuidado: ela encontrará um meio de sair, de libertar-se, de cumprir o seu papel, que é o de chegar aos ouvidos e olhos das pessoas. Foi assim que aconteceu com Alberto Silva: de tanto negarem a ele falar para as pessoas, suas palavras ganharam uma força descomunal. Pior: eram ouvidas como verdade absoluta.
Pois bem, dito isto, aconselha-se aos jovens jornalistas falar com seus editores para evitar que caiam nessa esparrela de não permitir que se noticie as coisas mais amplamente ou que se invente informações dentro das redações. Isso acontece muito durante campanhas eleitorais. Essas verdades inventadas costumam ter seu DNA longe das redações. São monstrengos gestados em gabinetes. Não servem ao jornalismo, porque o tornam ruim, partidário, comprometido sabe-se lá com que diabos. Pior: emburrecem a atividade jornalística.