quinta-feira, maio 18, 2006

A morte do purismo petista

Em 1982, candidato a governador do Piauí pelo PMDB, Alberto Silva foi à Universidade Federal do Piauí para discutir suas idéias (sempre muito além do que comporta o orçamento) com estudantes.
Na platéia estavam muitos dos que hoje militam na política. Mas havia três jovens jornalistas: Magno Cerqueira, Paulo de Tarso Moraes e Roberto John Gonçalves da Silva. Os três militantes do PT davam expediente no Jornal da Manhã, dos irmãos José e Jesus Elias Tajra.
Alberto foi hostilizado por parte da platéia, que gritava: "Não, não, não. Não vem com essa não. Fascista é fascista, nunca é oposição". Era um grito petista contra o candidato que enfrentaria Hugo Napoleão, fina flor do que o PMDB chamou sabiamente (do ponto de vista publicitário) de oligarquia. Mas Alberto tinha sido governador indicado pelos militares no pior momento do regime. E os petistas sabiam disso e fizeram aquele protesto pontual.
Passaram-se 24 anos desde aquele protesto na UFPI. Alberto Silva não mudou nem um pouco. Ele permanece sendo um político que pensa em usar dinheiro público para realizar grandes obras (algumas delas de duvidosa eficácia), mantém intocável a sua biografia de conservador e certamente faria tudo de novo, inclusive apoiar um movimento militar que varreu para o lixo o direito do cidadão votar livremente.
Nesse intervalo de tempo (quase uma geração) quem mudou foram os estudantes que gritavam contra Alberto Silva, chamando-o de fascista. Roberto John, hoje secretário de Estado num governo do PT, está em Brasília. Sua voz não ecoa com a mesma força juvenil para dizer não ao velho cacique peemedebista que ele achava a encarnação do diabo autoritário. Como ele, tantos outros petistas mantém um silêncio obsequioso em relação aos movimentos para formar uma chapa em que a ideologia purista do PT será definitivamente enterrada. Sem direito a choro.
As eleições de 2006, como podemos ver, levam para uma cova rasa o que os petistas tinham de mais caro, que era a sua pureza ideológica. Esta morreu de uma patologia com nomes variados, mas que pode ser definida com uma palavra inusual: despudor.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

CB, extraordinario comentario. Com sua marca registrada: lucidez. E conhecimento histórico.

18/5/06 10:51  
Anonymous Anônimo said...

Quero registrar a minha admiração pelo Cláudio Barros: sempre observador e pontual.

18/5/06 13:46  

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