sexta-feira, julho 14, 2006

Quando o debate funciona

FENELON ROCHA
Jornalista e Prof. da UFPI

Estão dando importância além da conta para o debate com os candidatos a governador, realizado pela TV Meio Norte na quinta-feira à noite. Nesse momento, não importa muito quem ganhou, já que o debate serviu tão somente para delimitação do território de cada candidato – isto é, para cada concorrente oferecer seu posicionamento e tentar estabelecer as diferenças em relação aos concorrentes.
Dois meses e meio antes da votação, a campanha ainda está fria e o interesse no debate é limitado. Nesta fase, vai para a frente da TV quem tem interesse mais forte pela política, gente que em geral também tem suas preferências bem definidas. E se perguntarmos a essas pessoas quem ganhou o debate, elas vão indicar o candidato de sua preferência.
A indicação do ganhador só será diferente da preferência pessoal se seu candidato tiver sido um desastre. E essa é a real preocupação de um candidato num debate que ocorre tão cedo: não ser um desastre.
Nesse quesito, não podemos dizer que houve perdedor. E assim, não se pode dizer que houve um ganhador. Cada um estabeleceu seu campo particular: Wellington como o homem simples que está realizando muito pelo Piauí; Firmino como o administrador que tem um modelo a oferecer; e Mão Santa como o homem que fala a voz do povo e se bate contra um governo de faz-de-conta.
Daqui por diante, esse posicionamento é o que vai prevalecer. Vai ser repetido pela propaganda dos santinhos, carros volantes, discursos e horário eleitoral do rádio e TV.
Quanto aos debates, vamos ter outros. E se o desta semana teve pouca importância, no futuro a situação pode ser diferente.
Estudos mostram que os debates só funcionam mesmo em situações de disputa acirrada, muito acirrada. O mais clássico dos debates políticos colocou Kennedy contra Nixon, em 1960. Foi decisivo numa disputa vencida por meio por cento dos votos. Também foi decisivo o confronto de 1989 entre Collor e Lula: num quadro de indefinição, Collor saiu-se bem melhor no último debate, e ainda foi favorecido pelo enfoque da mídia. Em 2002, o cara-a-cara não mudou nada, nem no primeiro nem no segundo turno.
A questão é que esse tipo de programa tem impacto efetivo junto ao eleitor indeciso. E não há nada que garanta que esse eleitor ligue a TV com o propósito deliberado de elucidar dúvidas íntimas: o mais provável é que fique distante da telinha, desinteressado. Ainda assim, num quadro de disputa apertada, produzir influência sobre 3 ou 4% do eleitorado pode dizer muito sobre o resultado final da votação.
Na disputa pelo governo do Piauí, este ano, o debate programado para o final de setembro pode ter grande importância. Isso, claro, se 3 ou 4% fizerem efetiva diferença entre ter ou não ter segundo turno; ou entre Fulano ou Beltrano chegar à reta final da disputa.No mais, o debate desta semana funcionou como uma preliminar para o jogo principal. Funcionou como o aquecimento para as grandes discussões que vão estar postas especialmente a partir da propaganda eleitoral no rádio e TV.